Boatos se espalham em escola, e pais e alunos entram em pânico
Estudantes receberam mensagens sobre ataque durante a aula; mãe correu para buscar a filha
Em outro ponto de São Paulo, vendedor voltou para casa após sua filha receber alerta sobre criminosos no celular
"Mãe, vem me buscar na escola. Estão dizendo que vai ter ataque por aqui."
Daiana da Paixão, 31, recebeu a ligação da filha de 11 anos no meio da tarde, há duas semanas, quando a garota ainda estava na escola.
Pelo celular, a menina disse assustada que todos no colégio haviam recebido alertas de que criminosos fariam um ataque na avenida Amador Bueno da Veiga, na Penha, zona leste, onde ela estuda.
"Fiquei em pânico. Achei melhor não duvidar", disse a mãe da estudante.
Segundo professores e alunos do colégio, o boato disseminado pelo aplicativo WhatsApp tomou conta da escola durante o intervalo. Uma aluna conta que alguns jovens chegaram a chorar de medo.
Quando Daiana chegou no colégio, encontrou outros pais aflitos e reforço militar na redondeza. "Tinha até helicóptero da polícia", conta.
Segundo alunos, no dia seguinte muitas das salas ficaram praticamente vazias.
À Folha, a Secretaria Estadual de Educação disse que não alterou a rotina da escola. O colégio diz ter liberado das aulas apenas os alunos cujos pais foram até lá para buscá-los naquele dia.
O mesmo áudio que assustou Daiana chegou também a Jonas (nome fictício), 17, que trabalha como vendedor na Vila Matilde, zona leste.
"A mensagem também falava que teria ataque a uma rua de distância de onde eu moro. Imagina como foi a noite", diz ele, que ficou sem ônibus para voltar para casa.
Segundo ele, o assunto dominou sua tarde de trabalho. "Todos os clientes me perguntavam se eu achava que [o boato] era verdade e se eu fecharia mais cedo", lembra.
A cerca de 8 km dali, Janaína Gomes, 33, teve que fechar sua loja quatro horas mais cedo também por causa de boatos espalhados por celular.
"Recebi uma mensagem pelo WhatsApp. Ela até falava que o ataque começaria na minha rua às 21h", conta Janaína. No local e hora marcados, no entanto, apenas PMs aceleravam numa avenida praticamente vazia.
MUDANÇA DE ROTA
Naquele mesmo dia, passageiros de ônibus que saíam da estação Armênia do metrô com destino ao Jardim Leblon, em Guarulhos, eram avisados sobre uma mudança no itinerário.
A mudança de rota fez com que Valter de Oliveira, 64, descesse naquele dia a uma distância de "cinco pontos de ônibus" de sua residência.
Motoristas tinham medo de passar pelo local onde um ônibus já havia sido queimado naquela mesma semana.
Desde então, outras ameaças de ataques se espalharam pela cidade, chegando inclusive ao celular de Valter.
"No ônibus em que eu viajo, todo mundo recebeu o aviso pelo celular", afirma.
Os boatos também afetaram Valdemar Pires, 67. Dono de uma fábrica de velas, ele faz entregas em toda a cidade. No fim da tarde, deparou-se com bloqueio policial e perseguições na zona norte.
Sem saber o motivo da confusão, lembrou-se logo do aviso dado por sua filha mais cedo naquele dia. Ela o alertara sobre um possível ataque de criminosos. A notícia tinha vindo por Whatsapp. Com medo, Valdemar preferiu voltar para casa.