Mensagem de celular gera medo e muda rotina em SP
Áudios com ameaças e fotos antigas ajudam a espalhar boatos na cidade
Escolas fecharam, e ônibus mudaram o itinerário após alertas; ameaças anunciadas não se confirmaram
O primeiro alerta que chegou ao celular de Herbert Oliveira, 23, há duas semanas, falava sobre um possível ataque de criminosos na zona norte de São Paulo.
Na madrugada seguinte, quando o cobrador de ônibus acordou para mais um dia de trabalho, já havia várias outras mensagens no celular.
Em arquivos de áudio, elas indicavam as ruas que deveriam ser evitadas. Em uma dessas mensagens, um homem que alegava ser bandido dizia: "Quem estiver na rua vai ser cravado de bala. Hoje não vamos ter perdão com ninguém. É polícia e ladrão na rua. É o confronto".
Sem autenticidade comprovada, alertas como esse espalharam pânico e mudaram a rotina de moradores em diferentes regiões de São Paulo.
Alunos saíram mais cedo de uma escola na zona leste, itinerários de ônibus foram alterados em Guarulhos (Grande SP) e parte do comércio fechou.
As mensagens começaram a circular com mais força há duas semanas. Foi quando morreu na zona norte um criminoso supostamente vinculado à facção criminosa PCC.
A partir de então, os alertas se disseminaram pelo WhatsApp, aplicativo de celular para troca de mensagens de texto, áudio e vídeo.
Com a tecnologia, boatos sobre toques de recolher, que antes eram passados boca a boca, ganharam agilidade.
Algumas mensagens traziam data e local de supostos ataques, que não ocorreram.
Junto com áudios, começaram também a circular fotos de um carro de polícia tombado e de um ônibus pegando fogo. Embora fossem antigas, no celular elas pareciam um retrato fiel do que acontecia em tempo real.
Logo outra modalidade de áudio passou se espalhar: arquivos em que homens alegavam ser policiais e também faziam suas ameaças.
Em uma delas, o autor da mensagem diz ser "tenente coronel Martins, comandante da Tropa de Elite da Polícia Militar de São Paulo". O homem comemora a morte de um bandido e "ordena" que policiais primeiro atirem para só depois perguntar.
Desde o início dos boatos, cinco ônibus foram queimados na cidade de São Paulo, elevando para 127 o número total neste ano. Os incêndios, no entanto, não ocorreram próximos dos locais anunciados pelas mensagens.
Com medo, motoristas e cobradores da garagem em que Herbert trabalha resolveram não sair com os veículos naquela madrugada.
"Sabe como é o WhatsApp, a gente não sabe se é verdade. Mas é melhor não duvidar", disse Herbert.