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Morre Odete Lara, estrela do Cinema Novo
Corpo da atriz, que tinha 85 anos, seguirá para Nova Friburgo (RJ), onde será cremado nesta quinta-feira
Artista cantou com músicos como Chico e Vinícius, foi modelo e escreveu e traduziu livros sobre o budismo
Morreu nesta quarta (4) em uma casa de repouso na zona norte do Rio, aos 85 anos, vítima de um infarto, a atriz Odete Lara, uma das estrelas do Cinema Novo.
O corpo será cremado na tarde desta quinta (5), na cidade fluminense de Nova Friburgo. O velório foi realizado durante a tarde de quarta-feira (4), em uma cerimônia discreta, com poucos amigos, no Parque Lage, no Rio.
Há alguns anos, Odete sofreu uma fratura no fêmur e voltou a morar no Rio --ela havia se retirado para a serra fluminense quando parou de atuar, no final dos anos 1970.
ABANDONO
Filha de imigrantes italianos, a atriz nasceu em São Paulo, em 1929, como Odete Righi, herdando o sobrenome da mãe, devido ao fato de seu pai já ser casado. O abandono sempre esteve presente em sua vida. A mãe suicidou-se quando ela tinha 6 anos e o pai, quando ela tinha 18.
No começo da carreira de atriz, num comercial na então recém-inaugurada TV Tupi, chamou a atenção por se recusar a sorrir, uma atitude nada comum para alguém tentando vender um produto.
O ar enigmático e sua beleza falaram mais alto, e essa musa incomum virou atriz da TV Tupi, encarnando a rainha má da Branca de Neve. Participou de telenovelas e foi estrela de um programa de adaptação de clássicos da literatura.
Também foi modelo, participando de um dos primeiros desfiles brasileiros, realizado no Masp em 1951, e cantora, em shows como "Skindô", ao lado de Vinicius, e "Meu Refrão", com Chico.
Como escritora, publicou livros autobiográficos como "Eu Nua", "Minha Jornada Interior" e "Meus Passos na Busca da Paz", além de ter traduzido para o português várias obras do budismo.
No teatro, iniciou no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), mas dizia não gostar do palco por não suportar sua timidez. Sua estreia foi em 1955, com a peça "Santa Marta Fabril S.A.", ao lado de Walmor Chagas.
Mas foi no cinema que Odete se destacou. Fez 32 filmes entre 1956 e 1979. Estreou ao lado de Mazzaropi, em "O Gato de Madame" (1956) até se tornar musa do Cinema Novo, com destaque para o polêmico "Noite Vazia" (1964), de Walter Hugo Khouri, e o premiado "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (1969), de Glauber Rocha.
Foi premiada no Festival de Gramado por sua contribuição ao desenvolvimento do cinema brasileiro e ganhou o troféu APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em 1975 pelo conjunto da obra.
EXÍLIO
Odete foi casada com o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho e com o diretor de cinema Antonio Carlos Fontoura. Teve casos com o novelista Euclydes Marinho, com o músico Tom Jobim e o ator Paulo Autran. Não teve filhos.
Tinha uma carreira cinematográfica consolidada quando decidiu abandoná-la. Seu último longa foi "O Principio do Prazer", em 1979.
Exilou-se em Nova Friburgo, onde passou a se dedicar ao budismo, ocupando-se com meditação, ioga, leituras, tradução de livros e escrita.
Dizia que a morte era "o próximo tabu a ser quebrado em nossa sociedade, depois do sexo".