'Na Cohab não tem salão de festa', afirma organizador
Jovens reclamam de falta de opções de lazer e da repressão policial
Gestão Haddad (PT) diz que pancadões são 'manifestações da juventude paulistana' e devem ser 'protegidos'
O rolê estava "moiado". As lâmpadas amareladas não davam conta de iluminar toda a avenida Ilha da Juventude, em Parada de Taipas, bairro pobre na periferia da zona norte paulistana.
Nos portões, alguns adolescentes observavam policiais revistarem quem entrava na rua escura, cercada por prédios da Cohab.
Carros com mais de três pessoas eram parados. Os ocupantes precisavam se explicar. Vai pro pistão?
O "Pistão de Taipas", baile funk que reúne uma multidão de jovens a cada edição na rua, já ia começar.
O plano era parar um carro e ligar o som alto, o que pode gerar multa de até R$ 1.000. No ano passado, 18 motoristas foram multados por desrespeitar a norma na cidade.
A notícia do baile se espalharia pelo WhatsApp, e os jovens tomariam o rumo da Ilha da Juventude. Faltava pouco para a meia-noite da terça-feira de Carnaval (17/2).
"Ihh, mas hoje tá 'moiado'", reclama um jovem, no portão. Na gíria da periferia, "moiado" significa que algo está dando errado --no caso, a presença inesperada da PM.
O baile é uma das principais diversões dos adolescentes de Taipas e outros pontos da periferia, que geralmente é pobre de áreas de lazer.
"Aqui a gente não tem muito dinheiro para ir para a balada, que é longe. O fluxo é uma confraternização da quebrada", diz Victor Hugo Marinho, 21, funcionário de manutenção do metrô e organizador do "Pistão".
"Os prédios da Cohab não têm nem salão de festa. O que sobrou para nós? A rua", diz.
"Tem muito morador que gosta da festa". De manhã, após todos os bailes, os jovens se reúnem para limpar a rua, que fica cheia de garrafas de bebida. "É nosso dever."
Victor reclama da repressão policial. "Quando está rolando o 'fluxo', não tem conversa. Já chegam jogando bombas", conta.
DENTRO DA LEI
Desde o ano passado, a prefeitura tenta levar os "fluxos" para outros locais públicos, como o autódromo de Interlagos (zona sul).
"A atual gestão entende que os pancadões são manifestações da juventude paulistana que devem ser preservadas, protegidas da influência de criminosos e que não devem ser marginalizadas", diz a prefeitura, em nota.
A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) diz, também, que dialoga com os organizadores para que os "fluxos" ocorram dentro da lei.
Em Taipas, a PM conseguiu impedir o baile. Soube do evento antes, pelo Facebook. "Moiou" mesmo.