Francisca Ramos dos Santos (1920-2015)
Tia Chiquinha cantou e dançou o marabaixo
Tia Chiquinha sempre gostou mesmo foi de botar um chapéu e uma saia rodada e de cantar e dançar ao ritmo do marabaixo e do batuque.
Desde pequenina, Francisca Ramos dos Santos ajudou a manter viva e a divulgar as manifestações culturais de seus pais e avós, que eram escravos --a mãe, na verdade, nasceu no Dia da Abolição.
Nascida e criada na comunidade quilombola do Curiaú, distrito rural a 8 km de Macapá, tornou-se referência nas tradições folclóricas do Amapá --o marabaixo é uma das principais expressões culturais do Estado.
A herança africana é mantida por mais de uma centena de seus descendentes. Parte deles canta país afora, com o grupo Raízes do Bolão, os "ladrões" (cânticos) do marabaixo. O nome do grupo é uma homenagem ao marido de Francisca, Maximiano dos Santos, ou mestre Bolão, um primo também do Curiaú.
Depois da morte dele, há 15 anos, a matriarca fundou o Centro Cultural Raízes do Bolão --hoje conhecido, carinhosamente, por "maloca da tia Chiquinha".
No enorme galpão que existe em sua casa, a família realiza festas em homenagem a santos. Chiquinha dizia ter criado a de Nossa Senhora de Guadalupe após ficar encantada com a santa, apresentada por um padre durante uma conversa.
Cantou ladrões e rodou sua saia até quase os últimos dias de seus 94 anos. Morreu na quarta (18), de problemas de saúde comuns da idade. Deixa cinco filhos (teve 11), 45 netos, 75 bisnetos e oito trinetos.
Para manter viva a memória e os ensinamentos da matriarca, a família "Bolão" pretende criar um museu.