Ex-perueiros cobram aumento e provocam impasse com Haddad
Novas empresas de ônibus cobram R$ 360 milhões por ano e dizem que podem deixar mais de 4 milhões a pé
Prefeitura diz já estar no limite; conflito ocorre em meio a licitação para definir regras por 20 anos
Às vésperas da licitação que definirá as regras do sistema de ônibus de São Paulo por 20 anos, a gestão Fernando Haddad (PT) está sendo pressionada a aumentar a remuneração de um grupo de empresas responsável pelo transporte de 43% dos passageiros na capital paulista.
As antigas cooperativas de perueiros foram obrigadas a virar empresas neste ano para poderem disputar a próxima concorrência pública. Agora, alegam que tiveram aumento de custos (com impostos e obrigações trabalhistas) e cobram da prefeitura uma diferença que pode chegar a R$ 360 milhões por ano.
Com uma frota de 6.000 ônibus, elas dizem que, sem a nova remuneração, não poderão manter os serviços --deixando a pé mais de 4 milhões de passageiros diários, além de esvaziar a licitação.
A situação criou um impasse com a gestão Haddad, que reajustou a tarifa cobrada dos passageiros em janeiro, já gasta R$ 1,7 bilhão por ano com subsídios ao transporte e diz não ter como negociar nada.
"A prefeitura tem um Orçamento que está no limite, e tem dificuldade de responder a essa demanda", afirmou Adauto Farias, diretor da SPTrans (empresa municipal que cuida do transporte).
Embora as reivindicações por melhor remuneração sejam frequentes, a pressão ocorre em momento delicado para Haddad, que está com popularidade em queda --entre setembro e fevereiro, houve um salto de 28% para 44% nos que consideram sua gestão ruim ou péssima, conforme pesquisa Datafolha.
Os antigos perueiros, que atuam legalmente no sistema desde 2003, após anos de clandestinidade, são conhecidos pela forte articulação.
Em 2005, uma greve geral da categoria por aumento da remuneração da prefeitura terminou em confrontos com a PM e dezenas de veículos incendiados e depredados.
Durante audiência pública sobre a nova licitação na última segunda (23), os antigos perueiros questionaram Jilmar Tatto, secretário de Transportes, por uma solução.
Eles atuam no chamado sistema local, nos bairros. Já as viações tradicionais operam no sistema estrutural --com ônibus maiores nos grandes corredores urbanos.
Por terem sido contratados inicialmente como cooperativas, os antigos perueiros recebem repasse menor do que as empresas convencionais.
Da passagem de R$ 3,50, eles ficam com R$ 1,61 por passageiro --as tradicionais viações recebem R$ 2,60.
A federação das cooperativas de transporte de São Paulo diz que, ao virarem empresas, elas passaram a pagar 34% de imposto de renda sobre lucro e, em maio, terão que reajustar os salários dos motoristas --que, de cooperados, passaram a ser funcionários contratados.
Segundo Farias, os gastos extras podem ser compensados pela maior quantidade de linhas de financiamentos a empresas --as cooperativas tinham crédito limitado.