Herdeiro de Villas Bôas quer tirar nome do pai de parque na zona oeste
Área na Vila Leopoldina inaugurada em 2010 está fechada por contaminação desde março
Terreno, que receberia 10 mil peças de acervo do sertanista, pertence à Prefeitura de São Paulo e à Sabesp
"Não vejo meu pai sendo homenageado por um enrosco desse." A frase é de Noel Villas Bôas, 38, filho do sertanista Orlando Villas Bôas (1914-2002), em referência ao parque municipal com o nome de seu pai na Vila Leopoldina (zona oeste de SP).
O local foi fechado em março, após ação do Ministério Público que apresentou um laudo indicando a presença de substâncias tóxicas no parque, com riscos para a saúde dos frequentadores.
Por isso, a família Villas Bôas quer tirar o nome de Orlando do local, desistindo de levar para o parque um acervo com mais de 10 mil objetos do sertanista, um dos três irmãos Villas Bôas responsáveis por desbravar o país na década de 1940 e idealizar o Parque Nacional do Xingu (MT).
"Agora que o parque está fechado e que seu futuro é cada vez mais incerto, não sabemos se o município vai fazer o parque de fato, se vai abandonar a área ou devolvê-la para a Sabesp", diz Noel, cuja família mora na Vila Leopoldina desde 1987.
Parte do terreno pertence à estatal e está sob concessão da prefeitura até agosto. Nele, funcionava uma estação de tratamento de esgoto, que foi desativada há 26 anos, mas que até hoje abriga equipamentos repletos de lodo.
A empresa também mantinha ali uma oficina de conserto de caminhões e transformadores elétricos, que usavam um lubrificante de alto potencial cancerígeno. Além disso, há metano no local, segundo a Promotoria.
De acordo com o Ministério Público, a responsabilidade pela descontaminação é da Sabesp, que poluiu a área, e da prefeitura, que tem permissão para usar o local.
Nos anos 2000, a prefeitura, em parceria com o escritório do arquiteto Ruy Ohtake, fez um projeto em quatro fases para implantar o parque em dois terrenos vizinhos, um da Sabesp e outro da prefeitura, num total de 260 mil m².
A primeira fase da proposta foi concluída em parte do terreno da estatal por R$ 4,5 milhões, e o parque foi aberto em 2010 pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) e pelo governador José Serra (PSDB) sem ser descontaminado.
A prefeitura chegou a fazer uma oferta pelo terreno da Sabesp, que recusou a proposta. A Folha questionou a municipalidade e a empresa sobre os valores da negociação, mas não teve resposta.
"A prefeitura ofertou R$ 70 milhões, mas a Sabesp queria R$ 240 milhões", diz Gláucia Prata, 58, presidente da associação Movimento Popular de Vila Leopoldina, que vem brigando pelo parque há 15 anos.
Para ela, a Sabesp e a prefeitura, que passam por problemas financeiros, foram "empurrando" a situação para não assumir os custos.
Balanço divulgado em março pela Sabesp apontou queda de mais de 50% no lucro da estatal em 2014. Já a prefeitura tem uma dívida que a impede de tomar empréstimos, dificultando investimentos.
"Não justifica perdermos um parque, mesmo com área contaminada, se tem como resolver. Se o perdermos, pode apostar que vão vendê-lo para uma incorporadora construir mais um condomínio", reclama Gláucia.
OUTRO LADO
Em nota, a Sabesp afirma que deve concluir uma avaliação ambiental da área até outubro, mas não respondeu porque não elaborou um plano de manejo do terreno após o decreto de criação da área.
Já a prefeitura afirma que a Sabesp é a "única responsável" pela elaboração dos estudos sobre análise da eventual contaminação do parque e que a secretaria municipal do Verde e Meio Ambiente não tem registros de indícios de contaminação na área cedida.
Procurada, a assessoria de imprensa do PSD disse que todas as áreas contaminadas foram isoladas antes do parque abrir, sem acesso ao público.