Polícia do Rio apura se PMs facilitaram invasão em morro
Traficantes caminharam com 30 fuzis pela região sem encontrar policiais de UPPs; seis pessoas morreram
Nilce Rodrigues, que perdeu o filho de 22 anos, afirmou que 'não existe mais pacificação no morro ou no asfalto'
A disputa entre traficantes, desde sexta (8), em morros da região central do Rio, assustou 30 mil moradores e deixou em alerta a Secretaria de Segurança para os riscos ao projeto UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Além do uso de mais de 30 fuzis, a polícia suspeita que os traficantes tiveram sua ação facilitada por PMs.
Desde 2008, quando o projeto começou a ser implantado, a tentativa de invasão do morro da Coroa foi a ação mais violenta entre facções na disputa por território. Tudo o que a UPP se propõe a acabar.
Até agora, o conflito deixou seis pessoas mortas e outras cinco feridas --uma grávida e adolescentes que jogavam futebol na rua.
A Secretaria de Segurança não se pronunciou. A coordenação das UPPs, por meio de sua assessoria, limitou-se a dizer que reforçou o policiamento na área por tempo indeterminado.
A polícia calcula que cerca de 30 fuzis foram usados na ação do Comando Vermelho contra a ADA (Amigos dos Amigos). De acordo com testemunhas, alguns invasores usavam touca ninja, o que pode indicar que sejam criminosos da região ou policiais.
Como o bando invadiu a comunidade caminhando do morro do São Carlos até a Coroa, policiais suspeitam que criminosos da ADA tenham traído a facção e se juntado ao Comando Vermelho. E observados por policiais da UPP, que estavam na favela.
O reforço prometido pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, na semana passada não havia chegado à região. Apenas 15 PMs estavam de plantão.
Às 21h35 de sexta (8) o serviço 190 da Polícia Militar se comunicou com o chefe do Estado Maior da PM, coronel Cláudio Lima Freire. O policial informou que cem homens deixavam o São Carlos em direção à Coroa.
O coronel disse, às 21h49, que pediria reforço. Quando policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) chegaram, o tiroteio era intenso. Traficantes de favelas próximas atiravam para o alto, assustando quem passava.
A região que abrange nove favelas fica perto do sambódromo e da prefeitura e a menos de um quilômetro da Secretaria de Segurança.
Desde 2011, quando as UPPs começaram a ser instaladas lá, Beltrame reclama que a comunidade não aceita o projeto. Mas também critica a corrupção policial.
Mãe de Diego Luniere, 22, morto no domingo (10) e sepultado nesta segunda-feira (11), Nilce Rodrigues afirmou que "a segurança do Estado está falida. Não existe mais pacificação no morro e nem no asfalto".
"Perdi um filho no Dia das Mães. Ia almoçar comigo. Vocês não sabem o que é esperar ele chegar e saber que não vai aparecer mais", disse ela, durante o velório.