'Proposta cede aos interesses imobiliários'
O zoneamento proposto é subserviente aos interesses imobiliários e do capital e deveria ter sido decidido pela população, em um processo de discussão mais longo do que aquele conduzido pela Prefeitura de São Paulo, afirma o urbanista e ex-professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Luiz Carlos Costa, 79.
Leia, a seguir, trechos da entrevista à Folha.
Folha - Como o sr. avalia a proposta de revisão da lei de zoneamento?
Luiz Carlos Costa - A proposta dá concessão ao setor imobiliário de construir edifícios em áreas muito extensas, praticamente dobrando o adensamento anteriormente permitido. Isso é feito em um contexto de crise urbana, de transporte e de habitação. Ou seja, isso vai agravar os problemas críticos da cidade. Seria necessário alterar o processo de produção da cidade, que é orientado para o interesse econômico do capital imobiliário, independentemente dos efeitos que eles causam.
O que precisaria ser considerado?
Sabe-se que esses empreendimentos que convêm ao setor imobiliário, que são os mais volumosos e verticais, vão produzir demanda por todos os serviços públicos. Isso só é possível de ser acomodado com transformação radical da estrutura urbana, o que não está posto.
Como o sr. avalia a ampliação dos usos comerciais em corredores localizados nas zonas residenciais?
Como são zonas importantes qualitativamente, mas desimportantes quantitativamente, seria razoável deixar esses bairros como estão e recuperar os de classe média, impedindo a invasão das frentes imobiliárias que criam problemas insolúveis na medida em que elas não são acopladas a uma ação pública capaz de multiplicar infraestrutura, serviços e equipamentos sociais.