Nova lei vai estimular comércio em 'bairros dormitórios' de SP
Proposta de zoneamento pretende criar empregos em áreas de moradia popular na periferia
Moradores com lojas em vagas de garagens dos prédios ganharão anistia; hoje, prática é proibida pela legislação
Nas ruas cheias de prédios coloridos da Cohab José Bonifácio, no início dos anos 80, uma placa avisava: ali, periferia da zona leste paulistana, abrir um comércio era estritamente proibido.
"Para comprar um pão, tinha que esperar passar um caminhão que vendia", lembra Marco Antonio Taschetti, 56, há 32 anos na Cohab.
A rigor, a proibição continua nos conjuntos habitacionais da prefeitura devido à lei, mas moradores improvisaram comércios mesmo assim.
A restrição deve cair se a nova lei de zoneamento da capital for aprovada na Câmara. O projeto, proposto pelo prefeito Fernando Haddad (PT), ditará os usos permitidos para cada quarteirão da cidade.
Estão previstas 20 áreas Zmis (zonas mistas de interesse social), áreas com moradia popular que ganharão estímulo a comércio e serviços, com o objetivo de gerar empregos.
Em bairros nobres, como Morumbi e Jardins, a lei também prevê regiões para comércio. Associações de moradores são contra, dizendo que a mudança pode acabar com a tranquilidade desses lugares.
ORIGEM DO PROBLEMA
O modelo de habitação social em São Paulo criou os chamados "bairros dormitórios", com condomínios em áreas sem muitas opções de transporte, serviços e economia local que gerassem empregos. Por isso, os moradores ficam ali apenas para dormir.
Para urbanistas, a falta de estrutura motiva a venda ou o aluguel das moradias --até a quitação, isso é proibido. A Cohab estima que 30% de seus apartamentos trocaram de mãos depois de entregues.
Em José Bonifácio vivem 19 mil famílias. A proibição não impediu que lojas florescessem no improviso, nas vagas de garagens dos prédios.
"O bairro precisava disso [comércio]. Dei uma ajeitada na minha vaga e abri aqui", diz Taschetti, mostrando sua loja de produtos ortopédicos. Com a vaga ocupada, seu carro precisa ficar na rua.
O aluguel do espaço para os comerciantes chega a R$ 700. "Tem gente que vive de alugar", diz Wellington Barbosa, 26, dono de uma loja de material de construção que ocupa duas vagas de carros.
Se a lei passar, os comerciantes terão anistia da prefeitura e vão poder regularizar seus estabelecimentos.