Olympia Garcia Brossa (1914-2015)
Bordou uniforme na Revolução
Os moradores de São Roque (a 66 km de São Paulo) consideravam a centenária Olympia Garcia Brossa um acervo vivo da história da cidade. Mais conhecida como Olívia, aos 11 anos de idade já trabalhava na Brasital, uma das primeiras indústrias têxteis do Estado. Para acionar os carreteis que alimentavam os teares, a pequena menina precisava usar um salto alto. Eram seus colegas de trabalho o pai, o irmão e as irmãs. Quando, em 1970, o apito da fábrica, que praticamente regia a vida em São Roque, cessou os trabalhos, Olívia ficou bastante deprimida.
Apesar de ter saído da Brasital em 1938, nutria pela fábrica um grande carinho. Tanto que, quando a empresa voltou à cidade, nos anos 1980, discursou em nome das operárias e caminhou pelo salão da fábrica, à época vazio.
Ao olhar as marcas das travas do tear no chão, falou, emocionada: "Aqui ficava o meu tear". Dona de excelente memória, era chamada pelas escolas de São Roque para falar às crianças sobre a vida no passado. Em 1932, por exemplo, ajudou na confecção de uniformes e boinas para os soldados paulistas que lutavam na Revolução Constitucionalista.
Depois de se casar, aos 23 anos, passou a ajudar o marido na alfaiataria que tinham no centro de São Roque –o bom papo de Olívia era a marca registrada do lugar. Repetia vezes a fio a frase bíblica "Lutei o bom combate". Arrependia-se apenas de não ter aprendido a dirigir: "Poderia ter um carro para ir e vir".
Morreu no dia 22, aos 100, de falência de múltiplos órgãos. Viúva, deixa dois filhos, sete netos e oito bisnetos.