SP e Rio ultrapassam limites de poluição
Plataforma criada por ONG reúne índices oficiais de poluentes como ozônio e poeira fina no país entre 2000 e 2014
Entidade responsável pelo levantamento, que será lançado neste sábado, defende revisão de parâmetro nacional
As regiões metropolitanas do Brasil, como as de São Paulo e Rio de Janeiro, estão longe de respeitar os níveis de qualidade do ar recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Entre os poluentes que mais prejudicam a saúde, quase todas as estações medidoras passam dos limites.
É o caso do material particulado fino (MP 2,5), poeira que penetra fundo no trato respiratório. Todos os 27 aparelhos paulistas e fluminenses que medem esse poluente registram médias anuais acima do padrão (10 microgramas por metro cúbico).
Não é muito diferente a realidade de outras substâncias prejudiciais, como o particulado mais espesso (MP 10) e o ozônio (O3). Há farta literatura médica mostrando sua relação com mortes prematuras por doenças cardiovasculares e respiratórias.
A partir deste sábado (3), a população poderá acompanhar esses índices pela internet, com o lançamento da Plataforma da Qualidade do Ar (www.qualidadedoar.org.br).
A base de dados, que reúne os níveis oficiais de poluição atmosférica publicados no Brasil de 2000 a 2014, foi organizada pelo Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), uma ONG paulistana.
As redes regionais de monitoramento são díspares. As únicas abrangentes e bem gerenciadas são a paulista e a fluminense. Mas todos os dados existentes no Brasil estão na plataforma e podem ser consultados por estação, por poluente e por Estado, possibilitando comparações.
DEFASAGEM
Segundo Ademilson Zamboni, do Iema, o site visa dar transparência dos dados para os pesquisadores e o público, além de "colocar o tema da poluição do ar, com a devida importância, na agenda ambiental brasileira, inclusive como reforço à mudança da regulação obsoleta ditada pelo Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente]".
Os padrões recomendados pela OMS constam de diretrizes publicadas há dez anos. A organização já iniciou um processo para torná-los mais rigorosos, de modo a evitar os danos apontados em recentes estudos de saúde.
No Brasil, porém, vigoram níveis máximos ainda mais antigos, estipulados pelo Conama há 25 anos. Só São Paulo deu largada num processo para se adequar às recomendações da OMS de 2005.
A legislação paulista, a mais rigorosa do país, foi alterada em abril de 2013. Estabelece quatro fases para alcançar o padrão OMS –a primeira delas está em vigor.