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1 EM CADA 5 ALEMÃES QUER A VOLTA DO MURO DE
BERLIM
Pesquisa mostra que apesar de 76% da população concordar
com a reunificação, 18% crêem que viveriam melhor
no país dividido; no Leste, sentimento é de rejeição
FERNANDA DA ESCÓSSIA
SÍLVIA
CORRÊA
na Alemanha
Associated
Press - 10.nov.89
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Um dia após
a abertura da fronteira entre as duas Alemanhas, ocidentais e orientais
festejam sobre o Muro de Berlim, que separou por 28 anos os dois países;
ao fundo, o Portão de Brandemburgo |
Wir wollen
ünsere Mauer wieder (Quere-mos nosso muro de volta).
O slogan escrito em cartazes e cami-
setas de jovens orientais meses após a queda do Muro de Berlim
resume hoje o desejo de um em cada cinco alemães.
O dado surgiu em uma pesquisa feita em setembro pelo instituto berlinense
Forsa para saber o que pensam os alemães de si mesmos, do país
e de seus vizinhos dez anos depois da queda da muro.
Nos números, a constatação: condenados à convivência,
muitos alemães ainda estão longe de se enxergar como viajantes
de um mesmo trem _72% deles avaliam como pouca ou nenhuma a integração
entre Leste e Oeste.
São os wessis (alemães ocidentais) os que hoje
se dizem mais insatisfeitos com os caminhos da história _20% afirmam
que querem o muro de volta, e 62% não vêem nenhuma melhora
na própria qualidade de vida.
Não chega a ser uma virada, já que 76% de toda a Alemanha
é contrária à volta da divisão, mas é
um quadro bem distinto do apresentado há dez anos.
Em setembro de 1989, dois meses antes da queda do muro, apenas 11% dos moradores
do Oeste não queriam a reunificação, de acordo com
uma pesquisa feita na época pela revista Quick. No Leste,
eles eram 26%. Caíram hoje para 14%.
A troca de papéis é o retrato de uma população
que está sentindo na pele as vantagens e os percalços da reunificação,
que tem faces distintas em cada um dos lados.
Eles ganharam a liberdade. Nós perdemos dinheiro e segurança,
resume o pedagogo Robert Schwarz, 50, um wessi nascido em Stuttgart,
no sul do país.
No Oeste, dizem os wessis, o dinheiro sumiu. Os subsídios
foram suspensos, dando lugar à taxa da solidariedade
_verba para a recuperação da parte oriental que engole 7%
dos salários.
Cerca de R$ 1,2 trilhão já foi gasto no Leste, mas 47% dos
ocidentais não sabem se esse investimento valeu a pena.
Mas se a avalanche de recursos chegou ao Leste, dizem os ossis
(alemães orientais), ela arrasou os empregos e a cultura local.
Em geral mais otimistas, os ossis reclamam da rejeição
pós-unificação.
Passamos por um processo de anexação. O modelo ocidental
foi adotado para tudo, e o que sabíamos deixou de ter valor,
diz o mecânico Gunther Reissmann, 53, que trabalha em uma fábrica
do Leste e prefere a Alemanha hoje, mas critica o desprezo pelas realizações
do Estado socialista.
As facetas do muro
As diferentes visões de mundo são uma das muitas facetas visíveis
de um muro cultural, político, social e econômico que está
em toda a parte: nas falas, na arquitetura, na qualidade de vida e no mercado
de trabalho.
Na periferia de Berlim Oriental, capital da extinta RDA, estão os
bairros pobres da cidade _Cohabs gigantes que surpreendem o turista recém-vindo
do Oeste.
Nesses bairros, o índice de desemprego chega a 18%, contra 9% na
parte ocidental do país. Mas não é só: quem
trabalha nessas regiões recebe, ainda hoje, apenas 80% do salário
de um ocidental que exerça as mesma funções do
lado de cá da Alemanha.
Antes eu tinha dinheiro, mas não tinha o que comprar. Hoje,
sobram lojas, mas não tenho dinheiro, diz o metalúrgico
desempregado Stefan Koch, 45, um dos mais de 400 mil trabalhadores demitidos
no processo de liquidação das empresas da RDA.
Nessa sociedade de diferenças e estranhamentos, a insegurança
é geral: 55% dos alemães declaram ter medo do que vai acontecer
com o país nos próximos anos ou dizem não conseguir
prever o próprio futuro. |