São Paulo, quinta-feira, 4 de novembro de 1999




'Aqui, o meu padrão
de vida melhorou'


do enviado à Alemanha

Cinco horas de viagem de trem garantiram à vendedora Cornélia Kammerzing, 41, ultrapassar a invisível fronteira econômica que separa duas realidades distintas na Alemanha. Em Frankfurt, ela leva uma vida de trabalhadora do Primeiro Mundo.
Cornélia nasceu em Bauben, perto de Dresden, no extremo oriente da Alemanha, perto da fronteira com a República Tcheca. Antes da queda do comunismo, ela trabalhava como funcionária de uma creche do Estado.
Quando o regime começou a ser desmontado, no início dos anos 90, 90% dos funcionários públicos perderam seus empregos. Entre eles, Cornélia. Seu marido, operário da construção civil, também ficou desempregado.
Assim como 1 milhão de alemães orientais, Cornélia e o marido decidiram arriscar uma nova vida em regiões mais ricas. Em 1992, migraram para Frankfurt, que tem uma das taxas de desemprego mais baixas do país.
Cornélia conseguiu emprego na Kaufhof, uma das maiores lojas de departamentos do país, e seu marido passou a trabalhar num serviço de assistência social. Em Bauben, eles ganhavam cerca de R$ 1.000 por mês e não encontravam produtos para comprar.
“Quando morávamos em Bauben, fazíamos excursões a Berlim para comprar bananas, abacaxis e outras frutas”, lembra ela.
“Não sinto saudades da Alemanha Oriental. Aqui, meu padrão de vida melhorou muito.”
A única viagem para o exterior autorizada pelo governo era para a Hungria. Mesmo assim, cada turista só tinha direito a levar o equivalente a R$ 20, quantia insuficiente para se manter no país por mais de um dia.
Hoje, Cornélia e o marido ganham, juntos, mais de R$ 6.000 por mês, têm casa com jardim e carro na garagem. Viajam pelo menos uma vez por ano com os dois filhos para a Grécia, a Tunísia ou Mallorca, na Espanha.
Cornélia tem um padrão de vida típico de trabalhadores de países desenvolvidos.
Seus amigos que ficaram em sua cidade natal parecem viver em país subdesenvolvido. Em Bauben, dois em cada dez trabalhadores estão sem emprego.
“Antes, o governo colocava tudo pronto na sua porta”, diz Cornélia. “Agora, as pessoas têm que ter iniciativa própria e controlar o destino com as próprias mãos.”
O problema é que a situação financeira da região não ajuda uma virada radical. “Sempre tem alguém abrindo uma loja, mas o negócio não dá certo e fecha rapidamente porque não circula dinheiro na cidade.” (RG)


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