São Paulo, quinta-feira, 4 de novembro de 1999




Ex-comunistas se fortalecem

especial para a Folha, de Berlim

Um muro político também divide a Alemanha de hoje.
Enquanto no Oeste são os partidos tradicionais, como o Social-Democrata (SPD) e a conservadora União Democrata Cristã (CDU), que contam com o apoio do eleitorado, no Leste os ex-comunistas da antiga Alemanha Oriental, hoje no Partido do Socialismo Democrático (PDS), vêm se tornando uma das principais forças políticas da região.
O PDS firmou-se, nas últimas eleições estaduais, como o segundo maior partido do lado oriental. No mês passado, foi a agremiação política que mais votos recebeu em Berlim Oriental e, pela primeira vez, conseguiu eleger representantes para câmaras distritais de Berlim Ocidental.
O sucesso do PDS agita a opinião pública. Ele é o sucessor do SED, o partido único socialista que governava, com métodos repressores, a antiga Alemanha Oriental. Alguns de seus líderes respondem processos em que são acusados de colaboração com a Stasi, o temido serviço secreto alemão oriental.
O Ocidente precisa reconhecer que 40 anos de comunismo marcaram intensamente a sociedade “alemã oriental”, diz o jornalista Wolfgang Templin, 50, um dos defensores dos direitos civis na antiga Alemanha Oriental.
Além de ser o único partido vindo da Alemanha Oriental, o PDS parece atrair o voto de protesto. Se nos seus primeiros anos convenceu sobretudo o eleitor alemão oriental _o mais atingido pelo desemprego_, agora vem conquistando votos de ex-simpatizantes do SPD e dos Verde, há um ano no governo do país.
Os alemães elegeram em 98 um governo rubro-verde, que pôs fim à hegemonia de quase 16 anos da CDU, do então chanceler Helmut Kohl. O pleito acabou elegendo o social-democrata Gerhard Schroeder chanceler federal e levando ao poder uma nova geração: a dos Verdes, partido pacifista e ecológico, nascido dos ex-rebeldes da “geração 68”.
O SPD e os Verdes, porém, vêm despencando na simpatia do eleitorado, que, como mostram os últimos pleitos estaduais, volta a apoiar a CDU, além dos socialistas. Não faltam explicações para a crise rubro-verde.
Além de não conseguir combater o desemprego (são mais de 4 milhões os alemães sem trabalho) e de promover cortes pouco populares em áreas sociais, o SPD se vê às voltas com disputas sobre sua linha ideológica _a social-democrata ou a neoliberal, defendida por Schroeder.
No poder, os Verdes também pouco avançam em questões básicas de seu programa, como o fim das usinas atômicas do país. Além disso, desde que apoiaram a guerra no Kosovo, seus dirigentes enfrentam disputas internas com os pacifistas.
Os partidos de extrema direita parecem pouco ganhar com a crise rubro-verde. Palco de brigas internas, eles vêm perdendo, para outros partidos, os deputados que haviam elegido nos Estados da Saxônia-Anhalt e de Brandemburgo.
(SILVIA BITTENCOURT)


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