São Paulo, quinta-feira, 4 de novembro de 1999




1,5 milhão espera para ver
arquivos da polícia secreta

da Reportagem Local

Reuters - 24.set.99
Funcionário dos arquivos da "Stasi" consulta documentos arquivados em Berlim


O muro caiu, mas parte da história ainda não foi contada.
É essa a sensação de cerca de 1,5 milhão de alemães que esperam na fila para ter acesso aos arquivos de suas próprias vidas produzidos pela Stasi (forma abreviada de Staatssicherheit), a temida polícia secreta da ex-RDA. A espera pode durar até cinco anos, pois todos os nomes de espiões e testemunhas são apagados antes de os processos serem entregues.
O prédio da Stasi é ainda hoje uma sinistra fortaleza na antiga Berlim Oriental. Poucas pessoas circulam nos corredores escuros.
Nas salas fechadas por portas de ferro e paredes de cobre estão fichados mais de 3 milhões de pessoas. Todas elas foram vigiadas pelo governo socialista sob suspeita de serem opositoras do regime. Para cada uma há uma pasta. Alguns têm mais de 300, somando 180 km de documentos.
Nas pastas estão diários pessoais, cartas que nunca chegaram ao seu destino, gravações de ligações telefônicas, descrição de trajetos e horários dos investigados, fotografias e potes com lenços que guardam o cheiro dos suspeitos.
“Para ser considerado subversivo bastava gostar de rock norte-americano”, afirma Johann Legner, porta-voz da instituição que administra o acervo desde a reunificação. Segundo ele, no auge da atuação da Stasi cerca de 265 mil pessoas _1,5% da população da ex-RDA_ eram espiãs do regime.
Metade das residências de Berlim tinham escuta telefônica. Diariamente, 5% das cartas que circulavam no país eram checadas.
Hoje, apenas 14 dos antigos agentes secretos continuam trabalhando na instituição, mas seus nomes são mantidos em sigilo. Todos os outros foram demitidos.


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