São Paulo, quinta-feira, 4 de novembro de 1999




‘Tivemos que pagar
dívidas dos orientais’


do enviado à Alemanha

O alemão Josef Franke, aposentado, não se conforma.
Aos 75 anos, ele ainda se revolta quando fala dos gastos do governo alemão com pensões para vítimas de guerra, migrantes russos e, agora, com os moradores da antiga Alemanha Oriental.
“Nós pagamos muito para o governo para termos direito à aposentadoria. Mas parte do dinheiro é desviado para financiar outros gastos, como as pensões para eslavos que estão chegando ao país”, diz Franke, que foi soldado na Segunda Guerra Mundial.
Há dez anos, Franke tentou fundar o “Partido dos Empregados” para representar os alemães conservadores, que não concordam com os benefícios sociais estendidos pelo governo a quem não contribuiu com o pagamento de impostos.
Ex-diretor de uma empresa de venda de máquinas e equipamentos, Franke representa o típico alemão que prosperou depois da Segunda Guerra Mundial e se incomoda com os gastos gerados pela reunificação.
“Se não tivesse ocorrido a reunificação, todos os países do Leste Europeu teriam falido em dois anos”, diz o aposentado. “Nós, da Alemanha Ocidental, tivemos que pagar todas as dívidas da Alemanha Oriental.”
Franke mora num apartamento próprio, avaliado em R$ 600 mil, na bela região da Floresta Negra, colada à cidade de Stuttgart, no sul do país.

Privilegiados
Além de ganhar mais de R$ 3.600,00 de pensão por mês, recebe os rendimentos do dinheiro que economizou durante seus mais de 30 anos de trabalho.
Sua mulher, Hannelore, também é aposentada e trabalha ocasionalmente como guia de turistas japoneses e norte-americanos.
“Somos uma minoria privilegiada porque temos apartamento próprio e uma boa aposentadoria. Com certeza, isso será bem mais difícil para as próximas gerações”, diz Franke.
Para o casal, a ameaça da queda de padrão de vida para seus filhos é preocupante.
Desde o fim da guerra, eles se acostumaram só a ter perspectivas cada vez melhores.
Em 1945, lembra Franke, cada alemão teve de recomeçar a vida com pouco mais de R$ 50.
Ele foi colocado pelo governo num apartamento de desconhecidos porque não havia casas para todos. “O padrão de vida melhorou, mas desde a unificação o desemprego cresceu muito e está cada vez mais difícil viver bem”, diz o aposentado.
(RICARDO GRINBAUM)


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