São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 1999




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Deus chega via Internet

LEONARDO CRUZ
da Redação

Conectado ao computador, um judeu pode colocar uma mensagem no Muro das Lamentações, em Jerusalém, sem ter de ir à terra prometida. Pela Internet, no site www.thewall.org, a organização Aish HaTorah já recebeu, desde 96, 100 mil e-mails com pedidos, que voluntários colocam no muro.
Esse trabalho gratuito é uma das manifestações religiosas na rede mundial de computadores. Das salas de bate-papo com temas bíblicos às páginas que organizam grupos de oração, a fé está em expansão na Web.
No final de 96, quem pesquisasse a palavra “God” (“Deus”, em inglês) no sistema de busca AltaVista obteria 146 mil sites com a referência. Hoje, já são 8 milhões. O mesmo AltaVista tem 82 mil páginas sobre o tema “Sociedade” registradas em seu cadastro. Desse total, 29 mil pertencem ao subtema “Religião”.
A Web atrai religiões com sua interatividade imediata, canal de diálogo com fiéis. No Brasil, o site Mundo Católico desenvolveu a OraNet, rede que recebe pedidos de oração. As mensagens são enviadas a intercessores, voluntários que rezam pelos pedidos.
“Oro por todos. Mando orações a alguns, mensagens a outros, conforme me indica o Espírito Santo”, diz a intercessora Maria das Graças Franco, que recebe quatro pedidos por dia.
Com autorização dos autores, as mensagens são colocadas no site, para que outros católicos também possam orar por elas. São pedidos pela cura de doenças, obtenção de empregos e conversão de descrentes. O mesmo serviço é oferecido em sua versão evangélica pela Bíblia World Net.

CONVERSAS BÍBLICAS EM SALAS DE BATE-PAPO
Essa mesma página abriga outra atividade procurada pelos ciberfiéis: o chat, espaço para conversas simultâneas.
Vinculadas ao Universo Online, essas salas de bate-papo religioso são frequentadas, em geral, por evangélicos que gostam de conversar na rede, mas não se sentem bem em chats de temática “mundana”. Essas comunidades funcionam como local para discutir a Bíblia e fazer amizades. Mas há quem as use para tentar conquistar adeptos, fazendo evangelização virtual.
Raul Orlando Martins Ferro, membro da Assembléia de Deus em Goiânia, entra no bate-papo do UOL ao menos três vezes por semana. Frequenta as salas do Bíblia World, mas, muitas vezes, vai a chats sobre sexo para fazer pregação.
“Como não tenho tempo para acompanhar os trabalhos da igreja, decidi evangelizar na Internet. Escolho salas sobre sexo, pois é onde as pessoas mais precisam de ajuda”, diz Raul.
Ele relata que, nas salas, tenta convencer seu interlocutor de que “ele está no lugar errado e deve ouvir a palavra de Deus”. Raul conta que, geralmente, é recebido com ofensas, mas consegue, às vezes, fazer com que pessoas deixem as salas sob influência de suas palavras.
“Para o evangélico que faz pregação, os chats são um desafio. Lá, eles deverão tentar a conversão de alguém dividindo espaço com adeptos de várias religiões”, analisa o antropólogo Airton Luiz Jungblut, que finaliza tese de doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul sobre a ação de evangélicos na Internet, principalmente em chats.
Em um ano e meio de pesquisas, Jungblut traçou um perfil desse tipo de internauta: escrevendo de casa, anônimo, o fiel expressa sua fé de forma mais individual e é capaz de discordar de princípios de sua igreja, sem medo de represálias.

LEVANDO A “PALAVRA” AO MUNDO
Em junho de 98, a Igreja Católica passou a usar a Web para atingir local de acesso restrito: a China. A agência católica de notícias Fides fez uma versão de seu site em chinês. Foi o primeiro documento oficial, elaborado pelo Vaticano, nesse idioma.
No Brasil, a Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro também usa a Web para espalhar sua doutrina. Desde setembro, a igreja faz na rede, ao vivo, a transmissão sonora de seus cultos dominicais.
“Desde o início, nunca quisemos atender grandes massas, mas levar nossa palavra aonde não chegávamos antes”, diz Lincoln Oliveira, coordenador do site, que tem recebido e-mails de fiéis no exterior e em outros Estados brasileiros.
Uma das mensagens veio de Vaajakoski, na Finlândia. A autora era a brasileira HelenaLiukko. Filha de finlandeses, ela foi à terra dos pais em 83 para trabalhar como tradutora por três meses, mas ficou.
No país, tornou-se batista. Vai aos cultos, mas sentia falta de ouvir as orações em sua língua materna. Helena teve seu desejo realizado há um mês, quando descobriu a página da igreja do Rio e passou a ouvir os cultos no micro de sua casa.

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