Técnicos concordam com Fofão sobre crise na base do vôlei
FORMAÇÃO
'Não vejo geração surgindo', diz Zé Roberto; técnico de seleções jovens discorda
Como costuma fazer com qualidade em quadra, Fofão levantou a bola. "Me preocupa mesmo no Brasil é a falta de renovação de jogadoras", disse em entrevista à Folha nesta terça-feira (10), dia de seu aniversário de 45 anos.
O problema apontado pela levantadora campeã olímpica é compartilhado por alguns treinadores, inclusive pelo que comanda a seleção feminina principal do Brasil.
"É uma preocupação grande. Vejo aparecer mais jogadores no masculino. No feminino, não vejo uma geração surgindo", afirma o técnico José Roberto Guimarães.
Tricampeão olímpico (1992 com os homens, 2008 e 2012 com as mulheres), ele acredita que a falta de clubes formadores é a grande falha.
"Estamos em um momento econômico complicado. Clubes com equipe principal já não têm de base. Colégios não formam como antes. Não está se formando mal, mas pouco", analisa Zé Roberto, que diz não ter ingerência sobre seleções de base do país.
Técnico de equipes de base do Brasil desde 2003, Luizomar de Moura concorda que os clubes diminuíram sua participação. Mas diz que a qualidade continua boa.
"Nossa preocupação em preparar novos valores é constante. Hoje muitos países copiam o trabalho de base do Brasil", diz Luizomar, que é técnico do Osasco.
Nos Mundiais sub-20, as brasileiras ganharam quatro títulos de 2001 a 2007 (três com Luizomar), mas perderam os últimos (um vice e dois terceiros lugares). No período ainda perderam a hegemonia no Sul-Americano, em 2012, para o Peru, na sub-18.
"Hoje me preocupa apenas uma posição: as centrais. O Brasil teve muito sucesso com as 'Torres Gêmeas', Thaísa e Fabiana, e não estamos encontrando garotas com esse biótipo", diz Luizomar.
BASE DOS CLUBES
Outros dois técnicos de times da Superliga feminina concordam que o problema da formação está nos clubes.
"As conquistas das seleções adultas masculina e feminina nos últimos anos servem de maquiagem. Parece um projeto vencedor, mas esconde uma total desatenção pela formação de base", afirma Spencer Lee, do Rio do Sul.
"A CBV olhou apenas para as seleções adultas e logo teremos um hiato na formação de novos atletas", diz.
Wagão, treinador do Pinheiros, um dos principais clubes do Brasil, inclusive na formação, endossa a crítica.
"A renovação tem sido difícil. Vemos uma redução no número de clubes com trabalhos na base", afirma.