Foco
Surfista que ajudou Medina a vencer o Mundial aguarda churrasco do campeão
Vitórias sobre Kelly Slater e Mick Fanning, o título mundial de Gabriel Medina, o rebaixamento para a "segunda divisão" do surfe, a morte de um dos melhores amigos e o início com pé direito na temporada de 2015. Muita coisa aconteceu na vida do surfista Alejo Muniz, 25, desde o final do ano passado.
Nascido em Mar del Plata, na Argentina, mas criado em Bombinhas, em Santa Catarina, Alejo (pronuncia-se "alêrro", como ele diz escandindo o nome na caixa eletrônica do telefone) ganhou as notícias em dezembro de 2014, quando Medina disputava o título mundial com as lendas do surfe Fanning e Slater na última etapa do Mundial, em Pipeline, no Havaí.
Contra todas as expectativas, Alejo eliminou os dois em baterias diferentes, abrindo o caminho para o inédito título do brasileiro.
Mesmo assim, prejudicado por uma ruptura dos ligamentos do tornozelo que o fez perder duas etapas do início da temporada, foi rebaixado do WCT (Circuito Mundial de Surfe) para o WQS (Circuito Classificatório de Surfe), uma espécie de segunda divisão.
"Foi o momento mais alto da minha carreira, sem dúvida. Eu lembro exatamente o que eu estava pensando e sentindo antes de começar a bateria, e tento repetir até hoje, como um ritual", diz.
"Eu penso em entrar somente para surfar, como eu fazia antes de ser profissional, quando era garoto, sem ficar elaborando muitas táticas e estratégias", explica.
E o ritual tem dado certo. No final de fevereiro, ele venceu a etapa de Newcastle (AUS) do WQS, o que lhe alçou à segunda colocação na competição. Cauteloso, ele diz que seu objetivo é terminar o ano entre os dez primeiros, para garantir sua volta ao Circuito Mundial.
Sobre a ajuda à Medina, Alejo se mostra feliz com a sua participação na campanha do título mundial.
"Para mim foi uma honra fazer parte desse momento histórico do surfe brasileiro. Eu não ganhei nada, foi tudo o Gabriel. Mas pela amizade com ele e o título inédito para o Brasil, eu não vou esquecer nunca do que aconteceu em Pipeline", conta, ainda transparecendo empolgação.
Alejo ainda não ganhou uma recompensa de Medina. Ele diz que não tem necessidade, mas aguarda o cumprimento de uma promessa.
"Ele disse que vai me pagar um churrasco. Estou esperando encontrá-lo para cobrar", brinca.
HOMENAGEM
Sua vitória no WQS teve um toque amargo. Um mês antes, ele havia perdido um de seus melhores amigos, o também surfista Ricardo dos Santos, baleado por um policial em Santa Catarina. Em sua prancha, Alejo escreveu com uma caneta que procurou a dez minutos da decisão: "Ricardinho para sempre".
"Ele era como um irmão para mim. Ele morava a duas casas de distância da minha, brincávamos e surfávamos juntos. A ficha não caiu ainda, para falar a verdade. Eu só fico um pouco mais tranquilo por ter conseguido homenagear o meu amigo."