Peça simula guerra causada por falta de água
Em 'O Campo de Batalha', dirigida por Lázaro Ramos e Márcio Meirelles, dois soldados inimigos encontram-se cara a cara
Sonoplastia singular tem voz de Fernanda Torres, em participação gravada, conduzindo ação dos personagens
Dois soldados se encontram no front da Terceira Guerra Mundial. A causa do conflito: falta de água.
"O Campo de Batalha", peça dirigida por Márcio Meirelles e Lázaro Ramos, que estreia nesta sexta (30), em São Paulo, começou a ser escrita há uns três anos.
Sim, foi coincidência tocar no tema inescapável dos paulistanos, que serão os primeiros a ver a montagem.
"Coincidência? Nossa, mas você não faz ideia. No começo, Aldri [Anunciação, autor e ator da peça] sugeriu petróleo como a causa do conflito. Mas eu disse que a Terceira Guerra seria por algo mais básico, vital, como a água", afirmou Lázaro à Folha.
PREMONIÇÃO
Para Márcio Meirelles, a peça é "quase a premonição de uma catástrofe anunciada e, também, uma superposição de todas as guerras".
O palco é como uma tela de computador com várias janelas abertas: atrás da enorme gangorra onde se equilibram os dois personagens, são projetadas imagens da 1ª e da 2ª Guerras, bombas atômicas e mensagens como o tempo de login do computador --que começa a correr no início do espetáculo.
Cheia de efeitos sonoros, e com locução de Fernanda Torres (a voz do comando de guerra, que vai conduzindo a ação), a peça termina com uma linda tempestade sonora (de efeito bem realista).
"A sonoplastia é quase um terceiro personagem da peça", diz Meirelles
Além da questão da água, a montagem foi marcada por outras coincidências. Uma delas foi reunir, após 14 anos, os baianos Lázaro e Meirelles --foi este quem introduziu aquele no teatro profissional, além de ser o diretor com quem o ator mais trabalhou.
Por problemas de agenda, nem Lázaro nem Meirelles podiam acompanhar todo o processo de montagem. A solução foi uma direção tripartida: além dos dois, o gaúcho Fernando Philbert assumiu a assistência de direção.
"Foram os deuses do teatro que armaram vários acasos, e as coisas foram ficando cada vez melhores. Agora vamos esperar os deuses da chuva", diz Lázaro.
Outra coincidência: um dos soldados está em crise por ter deixado a filha recém-nascida para ir à guerra. O segundo filho de Lázaro (uma menina) acaba de nascer, mas, no caso, ele vai ficar batalhando em casa mesmo, e não irá à estreia.
"O Lázaro tem mania de fazer um filho a cada peça que a gente começa a montar", diz Aldri Anunciação, que escreveu (sozinho) o texto e atua na montagem ao lado de Rodrigo dos Santos.
Em cena, os dois atores desenvolvem o que Anunciação chama de "espetáculo-debate", em que personagens com pensamentos antagônicos expõem seus argumentos sem que o texto tome partido por um ou por outro.
"Como autor, procuro dar bons argumentos para cada um, e o mesmo tempo para eles os exporem. É o público que decide ou não de que lado ficar", diz Anunciação.