Mônica Bergamo
Sem frescurra
Grávida aos 46, Carolina Ferraz supera preconceito com inseminação artificial, diz que uma gestação na sua idade 'é mais fácil' e inspira outras mulheres; para a atriz, o 'grande barato' é acertar na missão de ser mãe
Carolina Ferraz, 46, está sentada em um dos bancos da entrada de uma livraria no Leblon, bairro da zona sul do Rio. Sem nenhum traço de maquiagem, e usando bermudas jeans e sandálias rasteiras, ela interrompe a sessão de fotos para apontar para um carrinho de bebê que passa pela calçada.
"Olha que legal esse modelo!", diz, para depois cair na gargalhada. "Agora estou assim. Adorando falar sobre isso", diz à repórter Marcela Paes. O "isso" a que ela se refere é a gravidez de sete meses. Ela espera uma menina. Ainda não escolheu o nome.
"Cheguei a engravidar e perdi, o que é algo que acontece muito. Nem foi uma surpresa. Depois que aconteceu, eu falei: 'Quer saber? Vou fazer tratamento'", conta.
A vontade de aumentar a prole --ela já é mãe de Valentina, 20-- era o plano desde que começou a se relacionar com o médico e ator Marcelo Marins, 36, há quatro anos.
"Acho muito honesto, quando você se casa com alguém que não tem filhos e que quer ter, que você tente. No mínimo, eu tinha que tentar ter [risos]. E deu certo."
Antes de optar pela inseminação artificial, Carolina diz que tinha "uma série de preconceitos". O sucesso já na segunda tentativa do tratamento fez com que ela mudasse radicalmente de ideia.
"Hoje eu vejo que era falta de informação. É superseguro, tanto pra você quanto pra criança", afirma.
O sanduíche de queijo tostado pedido pela atriz chega à mesa do café que fica dentro da livraria. "Ai, que fome! Até agora engordei 15 kg. Mas tudo bem, gente. Depois fecho a boca e seja o que Deus quiser", diz.
Entre uma mordida e outra na baguete, ela para de comer, dá um riso discreto e decreta: "A vida sem glúten é muito chata. Como macarrão é booom! Não digo que nunca fiz esse tipo de dieta, mas não é exatamente agora que vou pensar nisso".
Desde o anúncio da gestação, a atriz tem recebido mensagens de apoio nas ruas e nas redes sociais. Sem esperar, a goianense se tornou um símbolo para mulheres mais velhas que desejam engravidar. Quase ninguém é indiferente à gravidez tardia, diz.
"As pessoas estão sentindo uma onda 'inspiracional' na minha gravidez, e isso pode ser uma coisa muito legal. Tomara que mulheres que pensam que não podem ter filhos se animem mesmo. Se é um desejo que elas têm, por que não tentar?"
Para Carolina, a diferença entre os 20 anos que separam a primeira gravidez e a gestação atual é mais psicológica do que física.
"Uma gravidez vivida na minha idade é mais fácil, porque você fica sem frescura nenhuma. Como todo mundo, fui fazer o famoso 'baby shopping'. Quando vi a lista enorme, falei: gente, só preciso de um terço disso", explica.
Tranquilidade que se estende até a escolha de como vai dar à luz.
Apesar de ter preferência pelo parto normal, a atriz não descarta a possibilidade de uma cesária, mas é avessa à ideia de ter a filha em casa, em um parto humanizado.
"Não tenho essa coisa filosófica. Vou ter no hospital. Hoje em dia dizem que você fica embaixo do chuveiro pra ajudar as contrações e que você entra numa banheira, mas não é pra mim. Prefiro só chegar lá e perguntar: a criança está bem? Tem olho? Tem nariz? [risos]. Tá bom? Então vou ficar feliz. Tô mais em outra geração, acho..."
Afastada das novelas desde "Além do Horizonte" (2013), ela não pensa em interromper o trabalho após o nascimento do bebê. Além do programa "Receitas da Carolina" (GNT), que estreou nova temporada na quarta (4) e foi gravado durante os primeiros meses da gestação, ela começa a filmar em setembro o longa "A Glória e a Graça", em que é produtora e interpreta uma travesti, contracenando com Sandra Corveloni. E espera estar escalada também para uma novela na Globo.
"Sou muito workaholic. Tenho amigas que pararam absolutamente tudo para cuidar da criança. Eu não sou assim. O trabalho é uma parte de mim. Se eu não estiver feliz como pessoa, acho que não vou ser uma mãe bacana", afirma a atriz.
Na televisão desde os 18 anos, ela afirma ter conseguido preservar a privacidade da filha Valentina durante a infância e a adolescência da menina. "Era engraçado. A Valentina já tinha 15 anos e as pessoas achavam que ela ainda tinha sete. Isso apesar de eu nunca ter deixado de levá-la aos lugares."
Também prefere não se preocupar antecipadamente com um eventual assédio sobre o futuro bebê, na contramão de alguns colegas de televisão que tentam impedir que fotos de seus filhos sejam publicadas.
"Eu prefiro que não saiam fotos. Mas fazer o quê? Infelizmente, quando você se torna uma pessoa pública, você tem que pensar nisso. Tem até alguns paparazzi que são bem amigos e bem simpáticos, mas outros não. É uma questão que a sociedade tem que discutir", afirma.
Quando termina de falar sobre os paparazzi, Carolina faz uma pausa. Seu assessor, que acompanha a entrevista, chama a atenção para o silêncio dos frequentadores do café. "Parece que a gente está num mosteiro beneditino. Acho que já tem muita gente prestando atenção na entrevista! [risos]", diz.
"É mais ou menos isso", concorda a atriz. "Ser famoso é uma prisão. Se você vai num lugar onde um garçom te destrata e te chuta a canela, e você reclama com ele, vão dizer: 'Lá tinha uma cliente que foi maltratada e reclamou, que garçom mais mal-educado'. Mas, se sou eu, vão dizer que é um ataque de estrela."
Com a percepção de que "hoje não pode ser uma coisa só na privacidade e ser outra em público", ela estende a ideia para o ambiente de trabalho.
"Não me importo só em fazer bem o papel. Acho legal sair de um trabalho e as pessoas depois falarem que foi um prazer trabalhar comigo. Isso faz diferença. Conheço um bando de atores, amigos meus, que são superbacanas e geniais, mas que às vezes dão uma complicada", diz.
Sem maquiagem, dieta e neurose, Carolina Ferraz define o que é importante para ela neste momento.
"Você sempre vai fazer coisas erradas e dizer que poderia ter feito melhor. Mas você sempre acorda querendo fazer tudo certo todos os dias, e cada vez melhor. Meu grande barato hoje é pensar que quero criar uma pessoa civilizada, com bons princípios. Educar é difícil. O resto é fácil."