Crítica cinema/drama
Tensão de longa argentino faz lembrar a de 'O Som Ao Redor'
Embora o cinema argentino recente seja bastante diverso, o senso comum costuma associá-lo a dramas agridoces de classe média passados em Buenos Aires --tais como "O Filho da Noiva", "Valentin" ou "O Abraço Partido".
Como "Relatos Selvagens", "Bem Perto de Buenos Aires" é mais um filme que foge a esse padrão --a princípio, por meio de um deslocamento geográfico. A trama se passa em um subúrbio da capital.
Ali parece ficar mais evidente a divisão de classes que é apenas insinuada em outros filmes. De um lado, os ricos com seus condomínios. Do outro, os pobres que os atendem e vivem em casas modestas.
Trata-se de um filme coral, que acompanha diversos personagens. Há um garoto calado que tem uma namorada garçonete, um pai policial e uma avó que trabalha como empregada de uma mulher rica e seu filho excêntrico.
Há um casal rico que se assusta com a possibilidade de invasão de sua casa após um rombo aparecer na cerca. E há também personagens que aparecem e desaparecem sem deixar uma marca na trama.
Em vez da narrativa sólida que estamos acostumados a esperar dos argentinos, "Bem Perto de Buenos Aires" se constrói a partir de pequenos esquetes de um humor seco --realistas e, ao mesmo tempo, com uma aura surreal.
Em um certo sentido, o filme lembra "O Som ao Redor", com sua luta de classes silenciosa, sua tensão social que parece sempre à beira de uma explosão e seu olhar irônico para os privilegiados.
Mas, enquanto a narrativa do brasileiro parece sempre caminhar para frente (mesmo longe de um molde clássico), a do argentino começa a girar em falso, com um tom monocórdio --para se recuperar apenas no estranho e interessante final.