Celso Frateschi expõe traumas da ditadura
Em 'Potestad', do argentino Eduardo Pavlovsky, ator vive pai de criança desaparecida
O ator, diretor e dramaturgo argentino Eduardo Pavlovsky escreveu a peça "Potestad" em 1985, logo após o fim do último regime militar em seu país (1976-1983).
Seu texto, que toma como base o desaparecimento de crianças durante o período --estima-se que foram cerca de 500--, nasceu como um espetáculo curto, foi ganhando corpo e chegou a virar filme, em 2002, com direção de Luis César D'Angiolillo e atuação do próprio Pavlovsky.
Agora, a obra ganha atuação de Celso Frateschi, que divide a cena com a argentina Laura Brauer e é dirigido por Pedro Mantovani.
Na montagem, em cartaz em São Paulo, a violência e medo não são retratados de forma direta, mas vivem como um fantasma na mente do protagonista (Frateschi): um médico que, conturbado, relata como no passado sua filha foi retirada de casa por estranhos sem que ele ou sua mulher conseguissem impedir o fato.
Então, o personagem discorre sobre seus sentimentos de perda e de impotência. "Ele esconde, congela a sua história e a sua vida, da qual não se sabe muito de início, e que vai se revelando no decorrer da peça", conta o ator.
Para acompanhar essa ideia de "congelamento", o cenário de Sylvia Moreira cria no palco formas brancas, semelhantes a icebergs.
"Aos poucos, o médico vai escavando aquilo que ele próprio não consegue admitir. Nesse sentido, é quase uma sessão de terapia."
Frateschi explica, contudo, que o texto não trata da ditadura em si, mas de como uma sociedade democrática que passou por um regime ditatorial guarda resquícios de autoritarismo.
"A ideia foi estudar uma patologia contemporânea, criada por um estado ditatorial e de desigualdade social violenta", diz ele, que acredita que hoje, no Brasil, vivemos um período de preconceito e de retorno de ideias conservadoras.
"[Após o regime militar], a gente avançou pra caramba, nos sentidos moral, ético, da compreensão. E, de repente, vemos pessoas aplaudindo e defendendo o retrocesso."
DEBATES
Para discutir os temas do espetáculo, três sessões da montagem serão seguidas de um bate-papo, gratuito, com o elenco e um especialista.
O primeiro convidado, que fala no dia 30 de abril, é o psicanalista Tales Ab'sáber. No dia 7 de maio, é a vez do filósofo Paulo Arantes e, em 14/5, do jornalista Alípio Freire.
POTESTAD
QUANDO qui. a sáb., às 21h, dom. e feriados, às 19h; até 17/5
ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
QUANTO R$ 7,50 a R$ 25
CLASSIFICAÇÃO 16 anos