Morre, aos 87, Jean Boghici, o 'mestre dos marchands'
Colecionador foi um dos mais influentes do país
Sua galeria Relevo e a mostra 'Opinião 65', que organizou no MAM, lançaram nomes de peso da arte contemporânea
Um dos mais influentes colecionadores de arte do país, Jean Boghici morreu aos 87 neste domingo (31), no Rio. Ele sofreu uma embolia pulmonar e estava internado havia um mês e meio no hospital Samaritano. Seu corpo foi velado e enterrado nesta segunda (1º) no cemitério São João Batista, em Botafogo.
Nascido na Romênia, Boghici chegou ao Brasil em 1948, fugindo da Segunda Guerra.
Sua história de vida, aliás, lembra o enredo de um filme. Depois de dormir as primeiras noites no país na praia de Copacabana, ele sobreviveu consertando rádios na avenida Atlântica. Virou marchand após ganhar o prêmio máximo do programa "O Céu É o Limite", de J. Silvestre, na antiga TV Tupi, respondendo perguntas sobre Van Gogh.
Em 1960, Boghici abriu a galeria Relevo, a primeira no país a vender obras de arte moderna e contemporânea, lançando artistas como Antonio Dias, Rubens Gerchman e Carlos Vergara. Esses mesmos nomes também estavam na mostra "Opinião 65", organizada pelo marchand no Museu de Arte Moderna do Rio.
Desde então, Boghici construiu uma das maiores coleções de arte do país, com obras de Tarsila do Amaral, Portinari, Di Cavalcanti, Volpi e de artistas estrangeiros, como Lucio Fontana, Alexander Calder e Giorgio Morandi.
Um incêndio que atingiu seu apartamento há três anos, no entanto, destruiu algumas de suas obras-primas, como "Samba", de Di Cavalcanti, considerada uma das telas mais importantes da história do modernismo brasileiro.
"Ele tinha um olhar agudo", diz Leonel Kaz, que organizou uma mostra da coleção de Boghici no Museu de Arte do Rio pouco depois do incidente. "O negócio era a personalidade dele. Ele conseguia vislumbrar coisas que a maioria de nós não vislumbraria. Ele formou a imagem que temos de nós mesmos."
Também zelou por essa imagem. "Ele foi um xerife contra a falsificação", diz Jones Bergamin, dono da Bolsa de Arte, uma das maiores casas de leilões do país. "Não deixava os bandidos chegarem perto."
Sérgio Fadel, outro colecionador de peso, comprou grande parte de suas obras orientado por Boghici. "Se ele dizia que um quadro era bom, era bom", lembra Fadel. "Era o mestre dos marchands."
Boghici deixa a mulher, Geneviève, e duas filhas.