Bienal celebrizou e sepultou a Casa Sete
Mostra de 1985 deu enorme projeção ao grupo no mercado da época, mas depois cada um seguiu caminho distinto
Nomes da geração atual atribuem a grande liberdade de pintar no país à ousadia dos rapazes do velho ateliê
Um ano depois de fundar a Casa Sete, os artistas do grupo trocaram a "solidão filha da puta" do ateliê, como diz Nuno Ramos, pelos holofotes.
Foi quando a crítica Sheila Leirner convidou os cinco para a Bienal de São Paulo de 1985, uma edição toda dedicada à pintura, que entrou para a história como Bienal da Grande Tela, por causa do longo corredor em que os quadros estavam expostos lado a lado.
"No panorama daquela época, o Casa Sete estava mais como 'aprendiz' talentoso e experimental que desencadeia eventos sem pensar nos seus efeitos", lembra Leirner. "A decisão de convidar o grupo não foi simples. Os trabalhos eram desiguais, uns mais maduros, outros imaturos. Foi um relacionamento tenso."
Ramos lembra, aliás, que no cenário nacional aquela foi a primeira vez em que "um curador tomou o papel do artista", aludindo à atitude radical de Leirner de emparelhar as telas. "A Bienal era uma coisa enorme, uma nave. A gente queria ser bem tratado, mas aquilo foi acachapante."
Também foi o começo do fim da Casa Sete. Depois da mostra, o grupo entrou no mercado. Vendiam quase tudo o que pintavam --Paulo Monteiro comprou uma geladeira com o dinheiro das telas que mostrou na Bienal e Rodrigo Andrade, um Fusca e um aparelho de som.
Mas, passada a fúria adolescente do grupo, cada um seguiu um caminho distinto. Quando o poder de fogo da pintura arrefeceu, mais perto dos anos 1990, Ramos e Monteiro começaram a fazer esculturas, Carlito Carvalhosa entrou no campo das instalações e Fábio Miguez e Andrade continuaram pintando, mas mudaram seus estilos.
"Foi um teste absurdo pintar juntos", lembra Andrade. "Mas a gente saiu de lá mais cascudo. Ainda me reconheço nos trabalhos da época."
Eduardo Ortega, que organiza a mostra no Pivô, observa que a onda de deixar o processo de criação evidente na superfície dos quadros começou na Casa Sete e reverbera até hoje na pintura do país.
'PINTURA FRANKENSTEIN'
"Eles enfrentaram um momento em que era difícil pintar", diz Lucas Arruda, um dos artistas da nova geração de pintores que acaba de expor no mesmo espaço no edifício Copan. "Eles foram uma baita referência para mim, mas hoje acho que não existe mais resistência à pintura."
Um sinal dessa diluição de barreiras no cenário atual é a pluralidade dos pintores no país, que vão da nova abstração de Rodrigo Bivar, que trocou suas cenas realistas do cotidiano por um geometrismo mais sóbrio, ao figurativismo entre o erótico e o delirante de Daniel Lannes.
Em sua mostra agora na galeria Baró, em São Paulo, Lannes mostra uma nova fase, em que retrata cenas que aludem à história do país, como reuniões estratégicas em Brasília e festas purpurinadas dos modernistas paulistanos, em chave surrealista.
"Venho buscando falar da história do Brasil, mas sem ser de uma forma carnavalesca", diz Lannes. "Faço uma apropriação irresponsável desses momentos. O interessante é fazer uma 'pintura Frankenstein', com coisas que eu gosto daqui e de fora." (silas martí)
CASA SETE
QUANDO abre em 13/6, às 13h; de ter. a sex., das 13h às 20h; sáb., das 13h às 19h; até 29/8
ONDE Pivô, av. Ipiranga, 200, loja 54, tel. (11) 3255-8703
QUANTO grátis
DANIEL LANNES
QUANDO de seg. a sáb., das 10h30 às 19h30, até 27/6
ONDE Baró, r. da Consolação, 3.417, tel. (11) 3661-9770
QUANTO grátis