Amor de gigolô
Baseado no romance de Marcos Rey, Miguel Falabella estreia musical com canções originais que se passa na São Paulo dos anos 1930
São as memórias de um gigolô da boêmia paulistana, criado por uma cafetina e apaixonado por uma prostituta. É ainda a história de uma São Paulo no apogeu de seu crescimento industrial e das mudanças culturais e políticas pelas quais a cidade passou entre os anos 1930 e 1950. Ah, e também é cantado.
O musical "Memórias de um Gigolô", que estreia nesta sexta-feira (10) na capital paulista, tem cara de espetáculo da Broadway: nos arranjos musicais, nos cenários grandiosos e nas transições de cena. Mas é todo brasileiro.
Baseado no romance homônimo de Marcos Rey (1925-1999), publicado em 1968, foi adaptado por Miguel Falabella, que também escreveu letras originais (com músicas de Josimar Carneiro) e assina a direção da montagem.
"Claro que eu bebi da fonte [de musicais americanos], não tenho menor problema com isso", afirma Falabella. "Mas acho que a gente precisa criar produtos nossos."
Após uma leva de adaptações da Broadway, desde "Os Miseráveis" (2001), o Brasil começa a apostar na mesma fórmula americana, porém com texto e canções nacionais, avalia o diretor.
"É um mercado que está sendo criado no país, estamos começando a dominar a linguagem do gênero."
É o caso do recente "Bilac Vê Estrelas", também em cartaz em São Paulo: o musical é inspirado em obra do colunista da Folha Ruy Castro, retrato da belle époque carioca, e tem músicas originais do sambista Nei Lopes.
"Falar da gente é muito importante. Adoro quando eu me reconheço", afirma o ator Marcelo Serrado, um dos protagonistas de "Gigolô".
Falabella, porém, diz que ainda há dificuldades em se conseguir patrocínio para produções nacionais. "Gigolô" captou R$ 3 milhões via Lei Rouanet. Espetáculo de mesmo porte, "Antes Tarde do que Nunca" --versão da Broadway com Falabella no elenco e com estreia marcada para 20 de agosto em São Paulo-- angariou R$ 5,6 milhões também pela Rouanet.
AMOR POR SP
Em "Memórias de um Gigolô", Mariano (Leonardo Miggiorin) relembra a sua história. Órfão criado dentro de um bordel, aprende ali os trambiques da vida e o ofício de gigolô. "Ele perde tudo e é obrigado a aprender a ganhar da vida", conta Miggiorin.
É ali também que se apaixona pela prostituta Guadalupe --papel da atriz e cantora Mariana Rios. Mas a moça vê seu coração dividido entre Mariano e o cafetão Esmeraldo (Serrado), seu protetor.
O triângulo amoroso tem como pano de fundo as transformações de São Paulo entre os anos 1930 e 1950: o crescimento urbano e industrial, a política do café com leite, a Revolução de 1932, as manifestações artísticas. E, principalmente, a boêmia da época.
O espírito de uma cidade que pulsa, resume o diretor. "A São Paulo que retratamos é encantadora. É uma cidade de arranha-céus quando o Brasil ainda era um brejo."
"[Marcos Rey] é um autor que tem amor por São Paulo", completa Serrado.
Falabella conta que há muito tempo se interessa pelo romance --que também deu origem a uma minissérie com Bruna Lombardi, exibida pela TV Globo em 1986-- e que foi com o livro que o diretor carioca passou a gostar de São Paulo.
"A prosa dele é muito interessante. Se [Marcos Rey] tivesse se dedicado mais à literatura adulta [escrevia para o público infantojuvenil], ele seria o nosso Balzac."
MEMÓRIAS DE UM GIGOLÔ
QUANDO qui., às 21h, sex., às 21h30, sáb., às 18h e às 21h30, dom., às 18h; até 30/8
ONDE Teatro Procópio Ferreira, r. Augusta, 2.823, tel. (11) 3083-4475
QUANTO de R$ 50 a R$ 180
CLASSIFICAÇÃO 10 anos