Análise
Com 13,1 milhões de espectadores, Broadway mira o Brasil
Enquanto o teatro musical brasileiro tenta se libertar da Broadway, os espectadores brasileiros partem em revoada para Nova York. Dilma Rousseff incluída: a presidente tinha ingresso para "The Audience", há duas semanas, mas o voo atrasou e ela acabou perdendo a apresentação.
Segundo o jornal "The New York Times", 70% dos ingressos da temporada 2014/15, de recordes, foram para turistas.
E no último ano os brasileiros --segundo maior grupo de visitantes estrangeiros na cidade, só atrás dos ingleses-- se tornaram alvo especial das campanhas de atração. Cinco produções em cartaz na Broadway, entre elas "The Lion King", enviaram atores a São Paulo para promover os espetáculos.
Com o reforço dos paulistas e outros, "The Lion King", "Skylight" e demais espetáculos, recém-estreados ou há décadas em cartaz, musicais ou não, superaram juntos o público dos dez times profissionais de esportes de Nova York e região, "soccer" incluído, na temporada que acaba de terminar.
Se havia ainda dúvida sobre o poderio econômico do teatro comercial na cidade, ela foi desfeita pelos 13,1 milhões de espectadores --e US$ 1,37 bilhão (cerca de R$ 4,4 bilhões) -- computados em 2014/15 pela Broadway League, que representa os produtores de peças para salas com mais de 500 lugares.
O resultado terá repercussão tanto nos EUA, com investimentos maiores em teatro em Nova York e outras, atraindo ainda mais estrelas, como no Brasil. Por aqui, deve estimular mais franquias de musicais americanos e ingleses, contra a corrente do teatro musical brasileiro.
O boom da Broadway remonta à entrada das grandes corporações na produção, há duas décadas, com musicais como o mesmo "The Lion King", da Disney, que abrange estúdios e TVs como a ABC.
Era parte de um esforço pela recuperação urbana da área, tomada por prostituição e violência.
Ex-crítico teatral do "NYT", Frank Rich avalia que, mais do que as melodias lacrimosas de Andrew Lloyd Webber, foi a cultura corporativa, por exemplo, com suas pesquisas qualitativas para definir produções, que mudou a Broadway. Foi o sinal de largada para a globalização atual.
Não se tem levantamento semelhante para o teatro comercial em São Paulo e Rio, mas os números divulgados no final dos 21 meses de "O Rei Leão" em cartaz, em dezembro último, indicam as proporções já atingidas pelo negócio, por aqui: 850 mil espectadores, em 662 shows.
Mas São Paulo e Rio não têm a concentração de teatros e, mais importante, a perspectiva de melhoria na segurança e nos equipamentos urbanos.
A saída das salas em shoppings é de tiro curto e tende a afetar a própria essência do teatro, como arte: em ambiente assim, ele mal se diferencia das lojas de fast food. Maior produtora do país, a T4F acaba de incorporar mais uma sala de rua, o Teatro Cetip, e parece ter consciência disso.