Histórico de Dilma não a impediu de manter pacto
Esperança de que ex-guerrilheira abrisse arquivos foi vã, diz jornalista
Manutenção, por Dilma, de Nelson Jobim na Defesa foi sinal de que não havia tal disposição, afirma autor
Dilma Rousseff representava a esperança de que, quase três décadas após o fim da ditadura, os arquivos secretos dos militares fossem enfim abertos, observa Lucas Figueiredo em "Lugar Nenhum".
Não é para menos. Trata-se da primeira vítima da tortura a ocupar o Executivo. "Presa em São Paulo em 1970, Dilma foi levada para a temível Oban (Operação Bandeirantes) e torturada durante 22 dias com choques elétricos, pau de arara, socos e palmatória", lembra Figueiredo.
A exemplo de seus antecessores, porém, ela também não enquadrou os militares. "Ao formar seu ministério, Dilma manteve Nelson Jobim no comando da pasta da Defesa, um sinal inequívoco de que não havia grande disposição em obrigar as Forças Armadas a abrir os arquivos da ditadura ou a explicar de maneira convincente sua ausência", escreve Figueiredo.
"Afinal", continua, "no segundo mandato de Lula, Jobim tinha feito prevalecer dentro do governo, inclusive perante Dilma, na época ministra-chefe da Casa Civil, a versão dos militares para a suposta destruição generalizada, legal e corriqueira dos arquivos da repressão."
Para o autor, a confirmação de que a presidente manteria o pacto de silêncio entre civis e militares se deu sete meses após sua posse. "O episódio teve início com uma carta enviada pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos ao novo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em agosto de 2011", lembra o autor.
"Os familiares partiam de uma premissa inquestionável: se em 1993 as Forças Armadas tinham sido capazes de elaborar relatos individuais sobre vítimas da ditadura, citando fatos ocorridos vinte anos antes, pelo menos até aquela primeira data os militares mantiveram arquivos da repressão."
Diante da constatação, pediram providências, ignoradas pelo governo.
LUGAR NENHUM
AUTOR Lucas Figueiredo
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 34,90 (170 págs.)
LANÇAMENTO 5/10, às 19h, na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis (av. Higienópolis, 618); debate com Lucas Figueiredo, Heloisa Starling e Laura Capriglione