Coleção nasceu durante trabalhos de comissão
A coleção "Arquivos da Repressão no Brasil" nasceu da colaboração entre jornalistas e historiadores estabelecida durante os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade.
Os jornalistas apuravam as informações que os militares não querem contar e os historiadores faziam os documentos falar, na observação de Heloisa Starling, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, que assessorou a CNV e coordena a coleção.
Os próximos livros, a saírem em 2016, estão definidos: "Os Fuzis e as Flechas", de Rubens Valente, jornalista da Folha, sobre a situação dos índios sob a ditadura; e "Embaixadores, Gorilas e Mercenários", de Claudio Dantas, sobre os braços da ditadura no exterior.
Mais adiante, a coleção deverá ter um livro sobre a participação dos empresários nos esquemas da repressão, tema que por enquanto só foi explorado por René Armand Dreifuss no clássico "1964 - A Conquista do Estado".
Em que pese esse trabalho pioneiro, trata-se de um tema a ser enfrentado. "Permanece o silêncio sobre o apoio da sociedade brasileira e, acima de tudo, sobre o papel dos empresários dispostos a participar na gênese da ditadura e na sustentação e financiamento de uma estrutura repressiva que materializou sob a forma de política de Estado atos de tortura, assassinato, desaparecimento e sequestro", diz Heloisa Starling.
A historiadora, que levou a ideia para a Companhia das Letras enquanto escrevia "Brasil, Uma Biografia" em parceria com Lilia Schwarcz, também assinará um dos volumes.
Ela abordará a maneira como, em vários momentos, os militares romperam a legalidade autoimposta. Defenderá também a tese de que a tortura já era política de Estado depois do golpe de 64, e não apenas depois do AI-5, em 1968, quando se intensificou.