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Vinicius Torres Freire
Descendo várias ladeiras
Importações, produção da indústria e vendas de varejo desaceleram ou caem em sincronia rara
O NÚMERO mais impressionante do comércio externo brasileiro é o rápido colapso das importações, das nossas compras de produtos de outros países. Os números, divulgados na segunda-feira, impressionam porque assustam. O valor total das importações desacelerou de modo brusco a partir de maio, começou a cair em julho e em outubro despencou (somados os valores acumulados em 12 meses).
Vai encolhendo a compra de produtos prontos, de matérias-primas, de insumos da indústria e, em particular, de bens de capital, as máquinas e os equipamentos neces- sários para a renovação ou a construção de novos negócios.
Em suma, as empresas reduzem suas compras porque esperam vender menos aqui ou lá fora e porque vão investir menos.
Ainda mais deprimente é confirmar que quase tudo desce a ladeira da atividade econômica, em sincronia rara de ver na última década. Desaceleram ou encolhem as importações, a produção industrial, as vendas no varejo.
As linhas dos gráficos embicam para baixo decisivamente a partir de março, abril, sempre levando em conta os resultados acumulados em 12 meses, que oferecem mais perspectiva e atenuam variações violentas de curta duração.
A produção industrial brasileira encolheu quase 3% nos 12 meses contados até setembro, soube-se ontem pelo IBGE (a indústria de transformação, não inclui a extrativa).
Quais as perspectivas? "Para os próximos meses, esperamos fraqueza da produção industrial, consi- derando os fundamentos econômicos desfavoráveis, como a baixa confiança dos empresários e os altos estoques na indústria", diz relatório dos economistas do banco Itaú divulgado ontem sobre os números do IBGE.
Sim, há o bom resultado do desemprego. O número de pessoas empregadas nas grandes metrópoles praticamente parou de crescer em setembro de 2013. Pergunta-se o que virá agora, com quase três trimestres de economia no vermelho, quase sangue, pois o fundo do poço ainda parece estar ainda meses adiante. E vai-se sair de lá devagar, dada a perspectiva de pelo menos um miniarrocho no início de 2015 (mais juros, menos gasto público).
A balança comercial foi publicada na segunda-feira e em geral chamou a atenção pelo fato de o Brasil praticamente não ter mais saldo comercial, do "pior outubro desde 1998" (ano que na verdade foi muito pior). Há resultados bem de- sagradáveis, ainda mais às vés- peras de um período em que o mundo, a princípio, não vai se animar a comprar muito mais produtos brasileiros.
O caso do minério de ferro, por exemplo. Trata-se de um talho enorme nas receitas de importação que de resto afeta uma das duas ou três maiores empresas do Brasil, a Vale. O pessoal da agropecuária perde rentabilidade, preço, mas ainda vende mais, como em soja e carnes.
Mais importante, porém, é o conjunto da obra. Não estamos conseguindo vender mais lá fora nem estamos comprando mais no exterior, para vender aqui ou reexportar. O comércio mundial cresce devagar, mais cresce; o brasileiro decresce. Não se trata de maldição, mas de sintoma de muita coisa errada ao mesmo tempo aqui dentro.