AES testa geração de energia com calor da Terra
Protótipo instalado em Itajubá 'fisga' vapor da crosta terrestre a 6.000°C
Custo ainda faz com que produção em escala seja economicamente inviável; meta é buscar opções ao uso da água
A AES Tietê, braço de geração e comercialização de energia do grupo AES Brasil, inaugurou neste mês um protótipo para produção de energia geotermal em Itajubá, na Universidade Federal de MG.
A pesquisa consiste na geração de eletricidade por meio do calor proveniente do interior da Terra. O projeto foi iniciado em 2010, com investimentos de R$ 4 milhões.
O objetivo é ampliar, no futuro, o fornecimento de energia para o país usando fontes diferentes da água, garantindo mais segurança ao sistema em períodos de seca como o atual.
No novo projeto, o solo é perfurado até que se alcancem as fissuras existentes na crosta terrestre, onde as temperaturas chegam a 6.000ºC.
São feitos então dois furos e inseridos tubos, que "pescam" esse vapor e o trazem à superfície, onde uma usina o transforma em energia.
Hoje, a AES Tietê tem nove hidrelétricas, além de três pequenas centrais. A empresa investe também na geração a partir do hidrogênio.
O diretor-geral de geração da AES, Ítalo Freitas, afirma que o desafio é baratear os custos e tornar as fontes alternativas de energia economicamente viáveis no futuro --ele não estima, porém, quando isso poderia ocorrer.
"Dependerá do avanço das pesquisas", disse.
Freitas afirmou que a energia geotermal é viável onde a afloração de temperatura é mais próxima da superfície.
CUSTOS
Ennio Peres da Silva, professor de física e de pós-graduação em planejamentos de sistemas energéticos da Unicamp, explicou que as altas temperaturas sob as terras brasileiras se localizam numa profundidade que torna a operação cara.
"Esses projetos são importantes porque estudam e avaliam se essa geração de energia pode ser viável ou não. No futuro, pode ser importante."
O Ministério de Minas e Energia informou que há estudos semelhantes no país em relação à geotermia, como em Santa Maria (RS), no Observatório Nacional e na UFRJ, mas que o país tem outras fontes a serem exploradas a um custo menor, como a biomassa (etanol e outros), a energia eólica e a solar.
A empresa também investe R$ 5 milhões em um projeto que, segundo a AES, possibilitará a produção de energia a partir do hidrogênio.
Freitas afirmou que o elemento pode ser isolado de duas maneiras.
A primeira, a partir da divisão do etanol por meio de um reator, e a segunda, por meio da eletrólise da água --removendo o oxigênio (através de um "choque") e armazenando o hidrogênio.
O estudo foi realizado pela Unicamp em parceria com duas empresas (Hytron e Aquagenesis). Agora, um equipamento piloto será instalado no Centro de Operações da Geração de Eclusas da AES Tietê, em Bauru.
Depois, o protótipo será construído em proporção maior em uma das usinas da AES, com a conclusão do projeto prevista para 2016.
José Luz Silveira, diretor-executivo do Ipeen (Instituto de Pesquisa em Bioenergia) da Unesp Guaratinguetá, que também estuda a transformação do hidrogênio em energia, disse que a vantagem é que, nesse caso, a eletricidade pode ser armazenada.
"Esses projetos são importantes para que a era do hidrogênio chegue o quanto antes ao país."