Bitcoin perde reputação e 43% do valor
Moeda digital fica associada a atividades criminais e ataques hackers e gera dúvidas sobre o seu futuro
Um dos responsáveis pelo funcionamento da divisa desaconselha que leigos comprem a moeda atualmente
Durante as duas primeiras semanas do ano, a moeda virtual bitcoin desvalorizou-se 43%, chegando ao valor de US$ 177 (cerca de R$ 470) nesta quarta (14). Em relação ao seu preço de pico, de US$ 1.242 (R$ 3.300), o bitcoin perdeu 86% do valor.
A desvalorização teve início no começo do ano passado e segue de maneira acentuada desde então. Nesta quinta-feira (15), a moeda se recuperou ligeiramente e foi comercializada a US$ 200 (R$ 530) no final do dia.
Na semana passada, uma das principais empresas britânicas que comercializam bitcoins, a Bitstamp, disse ter perdido 19 mil moedas (cerca de R$ 11 milhões) depois de uma invasão de cibercriminosos.
Analistas apontam o colapso, em fevereiro do ano passado, da Bolsa japonesa Mt.Gox, uma das operadoras mais importantes da moeda virtual, como um dos principais motivos para esse quadro de declínio.
A companhia entrou com pedido de falência após perder 850 mil bitcoins (US$ 400 milhões na cotação da época) em um alegado ataque hacker.
O problema --ainda não esclarecido totalmente-- fomentou a discussão sobre a regulação do mercado de bitcoins em vários países, aumentando a interferência do governo sobre o dinheiro digital em países como Japão e Estados Unidos.
Em sites da imprensa especializada, analistas dizem que o mercado de bitcoins encontra-se atualmente em um ciclo vicioso.
Com a frequente desvalorização da moeda, usuários se veem obrigados a negociar suas bitcoins para recuperar os custos em dólares, o que, por sua vez, causa um excesso de oferta e, consequentemente, o barateamento do dinheiro virtual.
Para piorar o cenário, o conhecido uso de bitcoins como moeda para atividades criminais, como venda de drogas, na chamada "internet secreta", ajuda a derrubar a reputação do dinheiro digital.
PREVISÕES
Um dos responsáveis por supervisionar o funcionamento do bitcoin, Gavin Andresen, cientista-chefe da Fundação Bitcoin, desaconselha que leigos comprem a moeda. "É, na verdade, perigoso", disse ao "Financial Times". "Não use, a menos que você seja letrado o suficiente para garantir que seu computador estará seguro."
Por outro lado, ele acredita que, assim como aconteceu com a web, o bitcoin deixará de ser tão misterioso e volátil e amadurecerá como um negócio sustentável.
Izabella Kaminska, jornalista do "Financial Times", não é tão otimista. Para ela, é "zero" a chance de o bitcoin vir a ser uma moeda popular.
Já o colunista do "Guardian" Matthew Sparkes afirma que, "como moeda, o bitcoin pode estar morrendo, mas como tecnologia está florescendo".
"Imagine uma rede social livre de acionistas, propagandas ou invasão de privacidade, ou um sistema de votação impossível de ser manipulado", disse, em relação à criptografia da rede.
"Ou mesmo uma internet completamente nova e fora do alcance dos governos que querem censurar, filtrar ou apagar informações."