Deflação cria incerteza sobre juros nos EUA
Índice de preços recua pelo 2º mês seguido e pode adiar ação do BC americano de elevar taxa, praticamente zerada há 6 anos
Expectativa de que o aperto monetário leve mais tempo para ser adotado ajuda a impulsionar mercados
A queda nos preços do petróleo levou a economia norte-americana a registrar deflação nos últimos meses de 2014 e aumentou as incertezas sobre quando o Fed (BC dos EUA) vai subir os juros, praticamente zerados há mais de seis anos.
O aperto dos juros pelo Fed é acompanhado com atenção por investidores. A tendência é que, com o aumento, parte do dinheiro que hoje está nos mercados emergentes (inclusive o Brasil) rume para os EUA, em busca do rendimento e da maior segurança da economia americana.
A expectativa de que o Fed tenha de adiar a alta da taxa --prevista para este semestre-- ajudou a impulsionar os mercados em todo o mundo. Nos EUA, a Bolsa de Nova York subiu 1,1% no índice Dow Jones e 1,34% no S&P 500.
Os preços nos EUA recuaram 0,4% em dezembro, a maior em seis anos, em consequência da redução de 4,7% nos preços de energia. Em novembro, a queda foi de 0,3%.
Na comparação com o mesmo período de 2013, o índice subiu apenas 0,8%, a menor elevação desde outubro de 2009. A meta do Fed é de uma inflação próxima a 2%.
A queda do petróleo também foi responsável pela primeira deflação nos países da zona do euro em mais de cinco anos (-0,2% em dezembro, ante o mesmo período um ano antes), elevando as preocupações sobre a recuperação da economia na região.
A deflação é um fantasma que incomoda a Europa há alguns meses, e os dados divulgados nesta sexta-feira (16) mostram que o problema, antes isolado em poucos países, agora está disseminado pela maior parte do bloco.
A longo prazo, a deflação é sintoma de fraqueza da economia, pois revela que os consumidores não estão dispostos a gastar e que as empresas precisam cortar gastos, gerando um ciclo negativo.
Por isso, para romper esse ciclo, espera-se que o BCE (Banco Central Europeu) siga na semana que vem o exemplo do Fed de 2012 e inicie um problema de "relaxamento monetário", comprando títulos dos países como forma de estimular a economia, que teve crescimento de 0,2% no terceiro trimestre.
Nos EUA, com uma economia crescendo forte nos últimos meses (o PIB teve avanço de 5% no terceiro trimestre, o mais expressivo em 11 anos) e com o desemprego se aproximando dos 5% --patamar considerado de pleno emprego--, o Fed já cortou esses estímulos e agora vive a expectativa da alta dos juros.
Na ata da sua reunião de dezembro, o Fed diz que pode subir os juros mesmo com a inflação baixa desde que seus integrantes tenham "confiança razoável de que o índice vai voltar aos 2% com o passar do tempo".
Para o economista Jay Feldman, do banco Credit Suisse, "o comportamento do núcleo da inflação nos próximos meses será essencial para o momento em que o Fed elevará os juros".
O núcleo da inflação não leva em consideração os preços de alimentos e energia, que são considerados mais voláteis. O índice no mês passado ficou em 1,6% na comparação com o mesmo período de 2013.