Onda deflacionária global derruba juros e sustenta a Bolsa no Brasil
Investidores falam em redução da Selic em 2016; Bovespa sobe 2,06% e dólar cai a R$ 2,62
Banco Central Europeu deve anunciar novo programa de compra de títulos; China injetará US$ 8 bi na economia
Uma onda deflacionária nos EUA e na Europa, resultante da queda nos preços de combustíveis e de produtos importados, derrubou nesta sexta (16) as taxas de juros e impulsionou a recuperação da Bolsa no Brasil.
Diante de preços controlados e da fraqueza da economia global, a expectativa agora é que o Federal Reserve (BC dos EUA) talvez não precise elevar os juros americanos em 2015. Dessa forma, o Fed deixaria de ser oposição aos bancos centrais que fomentam estímulos para a economia. Suíça, Índia, Egito e Peru já reduziram suas taxas locais de juros.
Na Europa, a previsão é que o BC divulgue na próxima quinta um novo programa de compra de títulos para injetar dinheiro na economia. A China vai ceder 50 bilhões de yuans (aproximadamente US$ 8,1 bilhões) para os bancos refinanciarem produtores rurais e pequenas empresas endividadas.
No Brasil, os investidores começam a ver o Banco Central retomando em 2016 a redução nos juros (Selic), após completado neste ano o ciclo de alta das taxas para segurar a inflação. Isso fica evidente no contrato de juros para janeiro de 2017 (reflete a ação do BC em 2016), cujas taxas caíram de 12,37% para 12,27% nesta sexta. Os juros de janeiro de 2017 já são inferiores aos projetados em janeiro de 2016 (reflete as decisões do BC deste ano), que desceram de 12,62% para 12,56%.
"Os juros estão caindo em todo o mundo e não poderia ser diferente no Brasil. A credibilidade da nova equipe econômica também ajuda", afirmou Mauro Mattes, da corretora Concórdia.
"A deflação alivia a pressão por aumento de juros nos EUA. Talvez não precise ocorrer tão cedo", disse Newton Rosa, economista da SulAmerica Investimentos.
DÓLAR E BOLSA
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, subiu 2,06%, aos 49.016 pontos.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, caiu 0,52% nesta sexta no país, encerrando a R$ 2,621. Na semana, houve baixa de 0,72%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, recuou 0,79% no dia e 0,61% na semana, para R$ 2,622.
As ações preferenciais (sem voto) da mineradora Vale subiram 3,67%. A China é o principal destino das exportações da companhia brasileira. Também subiram as ações das siderúrgicas Gerdau (5,16%), CSN (6,39%) e Usiminas (3,67%).
Os papéis da Petrobras foram beneficiados pelo avanço de 4% no petróleo (o Brent fechou a US$ 50,17). O papel preferencial da estatal subiu 1,07%, e o ordinário (com voto), 0,22%. O mercado aguarda pelo balanço não auditado da companhia, que deve sair no final deste mês.
"O resultado pode conter baixas contábeis referentes a uma estimativa de perdas com preços pagos por ativos acima do valor justo. O mercado tem estimado essas perdas na casa dos R$ 20 bilhões, valor equivalente a 5,5% do patrimônio líquido de junho de 2014", disse a equipe de análise da Planner Corretora, em relatório.
O setor bancário, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, também fechou no azul, ajudando a sustentar a Bolsa. Os papéis preferenciais do Itaú Unibanco ganharam 1,54%, enquanto os do Bradesco mostraram valorização de 0,97%.