Para FMI, queda do real não deixou país mais competitivo
Com custo alto do trabalho, Brasil permanece menos produtivo do que os seus concorrentes internacionais
Fundo agora estima queda de 1% do PIB neste ano, previsão similar à de analistas consultados pelo BC
A desvalorização do real em relação ao dólar foi insuficiente para o Brasil ganhar competitividade em relação aos seus pares internacionais, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), em relatório.
"O persistente alto custo unitário de trabalho continua a reduzir a produtividade. A consequência é que a posição externa está mais fraca que o desejado, com o real ainda sobrevalorizado no fim do ano passado", afirmou o Fundo. O custo unitário de trabalho é a relação entre o salário e a produtividade do funcionário.
No ano passado, o real foi a décima moeda de país emergente que mais perdeu força ante o dólar, com queda de 10,75%. Neste ano, apesar da recuperação recente, a moeda brasileira lidera as perdas na comparação com a divisa americana (recuo de 16,4%).
Para o Fundo, o governo acertou ao anunciar no fim do mês passado o encerramento do programa de intervenção diária no mercado de dólar. Ele recomenda que a intervenção no câmbio seja limitada, permitindo uma desvalorização do real em linha com os fundamentos econômicos, "promovendo a competitividade externa".
No relatório, o FMI também considera positivas as recentes medidas de austeridade implementadas pelo governo de Dilma Rousseff, mas estima que o PIB (Produto Interno Bruto) encolherá 1% neste ano --a previsão anterior do Fundo, de janeiro, apontava alta de 0,3%.
A previsão do FMI é similar a de analistas consultados semanalmente pelo Banco Central --na previsão mais recente, divulgada na segunda-feira (6), eles estimavam contração de 1,01%.
Porém, o organismo internacional diz que a previsão para 2015 ainda pode encolher, dependendo do cenário para energia (e de racionamento de água), da crise da Petrobras e da situação da economia internacional.
O Fundo também reduziu a sua previsão para o crescimento da economia brasileira no ano que vem: de 1,5%, em janeiro, agora passou para 0,9%. Para os analistas entrevistados pelo Banco Central, a expansão do PIB brasileiro em 2016 será de 1,1%.
A projeção mais pessimista para o Brasil, segundo o organismo, deve-se às políticas fiscal e monetária mais restritas e aos cortes de investimento da Petrobras, agravando o cenário de atividade fraca que vem desde o ano passado. No ano passado, o PIB brasileiro ficou estagnado, com alta de 0,1%.
No entanto, os diretores do FMI dizem que o sucesso na implementação do ajuste fiscal e outras medidas podem contribuir para o fortalecimento da confiança, ajudando a atrair investimentos no fim de 2015, dando as bases para a volta do crescimento em 2016.
No documento, o Fundo afirma que seus diretores encorajam o fortalecimento da governança para empresas estatais e consideram isso uma "prioridade imediata" para lidar com problemas da Petrobras.