Análise
Grécia evita expulsão do euro, mas democracia sai arranhada
A Grécia pode ter escapado de ser defenestrada da eurozona, mas a democracia, a mais bela invenção dos gregos, sofreu no mínimo um arranhão bastante feio.
As negociações entre o novo governo grego e seus credores demonstraram que a soberania popular –pressuposto essencial do regime democrático– só vale se ela estiver de acordo com as políticas dos países mais fortes ou, mais exatamente, do mais forte, a Alemanha.
Afinal, os gregos escolheram, em janeiro, uma coalizão (Syriza, Coligação de Esquerda Radical) contrária ao programa de austeridade imposto à Grécia em troca de uma ajuda que, na verdade, foi em 90% pelo menos para os bancos europeus entupidos de papéis gregos.
Depois, há pouco mais de uma semana, o eleitorado grego votou de novo, desta vez em plebiscito, contra a dose adicional de austeridade demandada pelos credores para manter o socorro à Grécia.
Não obstante, os líderes europeus impuseram ao primeiro-ministro Alexis Tsipras uma austeridade ainda mais pesada e "o mais intrusivo programa de supervisão econômica jamais montado na União Europeia", segundo o "Financial Times".
FARDO
A avaliação para "Alternatives Economiques" de Filippa Chatzistavrou, da Fundação Helênica para Política Europeia e Exterior, põe até números no novo sacrifício:
"A dose de austeridade que se impôs à Grécia [sete pontos do PIB em três anos], a má distribuição do fardo fiscal, justo quando um terço da população já está em situação objetiva de insolvência fiscal, a brutalidade das reformas estruturais poderão agravar a equação financeira do país".
O "Financial Times" traz, nesta segunda-feira (13), artigo de Wolfgang Münchau que diz, à certa altura:
"[Os credores da Grécia] destruíram a eurozona como a conhecíamos e demoli- ram a ideia de uma união monetária como um passo ru- mo a uma união política democrática".
É claro que uma união monetária, como o é a eurozona, implica um bom nível de cessão de soberania. É igualmente claro que quem deve está obrigado a dar garantias aos credores de que conseguirá pagar sua dívida.
Mas, mesmo considerando essas premissas, o inédito grau de intrusão na Grécia demonstra que a atual conformação política da União Europeia limita o poder de escolha de cada eleitora- do nacional –o que fere a democracia.