Vaivém das Commodities
Para Itaú BBA, gestão financeira diminui impacto da queda de preços
MAURO ZAFALON - mauro.zafalon@uol.com.br
As crises agrícolas são cíclicas. Nesta, em que os preços estão com intensa queda e os custos sobem, a pressão pode ser menor do que nas anteriores.
A avaliação é de Carlos Ortiz, diretor do Itaú BBA.
Ele atribui a passagem do setor por essa crise, sem grandes turbulências, a uma conscientização do produtor dos riscos e da necessidade de uma gestão melhor.
O patamar de risco varia de produtor para produtor e de região para região. "A situação pode ser melhor ou pior dependendo de qual o nível de gestão de risco que o produtor aplicou."
Segundo Ortiz, é importante saber qual o nível de disciplina do produtor e se ele fez investimentos na proporção cabível do capital próprio.
Se ele teve disciplina nos investimentos e em outros compromissos de longo prazo. Se, ainda, teve disciplina em fazer uma pré-venda da safra a preços médios melhores do que os atuais.
O que seguiu essas regras estará entre os que vão passar, sem grandes pressões, por essa crise. Mas, como diz o diretor do Itaú BBA, muitos estão fora dessa disciplina e da gestão financeira.
Aí, segundo ele, entra o papel dos bancos, hoje mais presentes na agricultura e atentos às questões financeiras dos produtores.
Ortiz afirma que o Itaú BBA, banco que vem aumentando a participação na agricultura, esforça-se em ajudar o produtor a ter mais organização, buscar demonstrativos mais claros e instalar uma contabilidade.
Na avaliação do diretor do Itaú BBA, as preocupações com a gestão e com a geração de uma contabilidade no setor agrícola são importantes porque isso pode reduzir os custos do próprio setor.
"Uma das desvantagens de um produtor é não conseguir demonstrar seu nível de risco de forma clara, inequívoca, prática e rápida", diz.
Com isso, há uma necessidade de os agentes do mercado garimparem as informações com produtores, cartórios e outras fontes. Só assim se chega ao que pode ser o perfil financeiro, a geração de caixa, as dívidas e o perfil de risco de seus clientes.
Isso traz um custo maior para a atividade agrícola do que em outros setores, diz ele.
Mas o momento é de cuidados. "Mesmo em períodos maravilhosos há sucumbências. Alguns perdem escala, tecnologia ou o controle financeiro." Em um período de vacas magras, o cenário pode ficar pior, acrescenta.
Para passar por esses ciclos de crise, os produtores têm de estar preparados em várias frentes. Entre elas, escala e produtividade, gestão de custos, atenção nas partes comercial e financeira, contatos com agentes financeiros para ter um colchão e gestão socioambiental.
Por isso, a participação dos bancos aumenta na agricultura. Um banco de relacionamento pensa no longo prazo e procura entender o setor, o cliente e a lógica do que fazer. Ele tem de olhar para a frente e ver como está o risco da atividade. Entender como o cliente gera esse risco de forma integrada, diz Ortiz.
QUEDA
O setor agrícola vinha de um ciclo de preços elevados e, cada vez que havia uma ameaça de queda, ocorria uma quebra de safra em alguma das regiões produtoras. O aumento da produção elevou os estoques, que afetaram os preços.
O setor no Brasil vinha de um ciclo de custo de insumos relativamente controlado e aumentos leves de câmbio.
Além disso, o governo aumentava o crédito com juros controlados. Com a crise, os repasses são menores.
A partir de agora, haverá um encolhimento das margens. A boa geração de caixa nos últimos anos serviu de estímulos a investimentos em maquinário, solo, conversão de pastagens em agricultura, renovação de pastagens e ampliação de área de plantio. Muita coisa ainda está por terminar. E esses custos vão ser saldados em um período de rentabilidade espremida.
O ponto positivo é a taxa de câmbio, que torna o Brasil mais competitivo. Mas esse benefício requer uma gestão de risco mais apurada. O produtor tem de financiar em dólar apenas parcela das commodities que vende precificada no mercado externo. Tem de fazer um casamento dos compromissos financeiros com os de vendas físicas.