Ataques e discurso do medo marcam campanha nos EUA
Americanos escolhem novos membros do Legislativo na terça (4); campanha foi a mais cara do gênero na história
Para especialistas, autorização de doações ilimitadas a comitês tem fomentado os anúncios negativos
Metade da propaganda política na TV americana é de anúncios negativos contra candidatos ao Congresso americano. Apenas em um terço deles os candidatos parecem fazendo propostas ou contando a sua história.
Na campanha legislativa mais cara da história, que já gastou US$ 1,2 bilhão, e que pode deixar o presidente Barack Obama em minoria tanto no Senado quanto na Câmara dos Representantes, os vídeos que atacam um candidato --e praticamente escondem o autor dos ataques-- dominam a narrativa eleitoral.
Os americanos vão às urnas na próxima terça (4) para escolher deputados e senadores. Alguns Estados e municípios também realizam votações locais.
Boa parte dos comerciais republicanos atacam candidatos democratas por sua proximidade com o presidente. "A senadora Kay Hagan aprova tudo o que Obama quer. Ela trabalha para Obama, não para você", diz um anúncio na Carolina do Norte, Estado com a campanha mais cara do país por eleitor, de mais de US$ 100 milhões.
A propaganda democrata no Estado mal fala de Hagan --o foco é falar mal de seu adversário, o republicano Thom Tillis. "[Tillis] foi contra a lei que daria igualdade salarial para homens e mulheres, aprovou a lei que dificulta a realização de abortos no Estado, gosta de interferir nos direitos reprodutivos da mulher", diz uma atriz.
Para Bob Hall, diretor-executivo da ONG Democracy North Carolina, que luta para aumentar a participação local nas urnas, "a campanha tem sido dominada por ataques a Obama e ao seu plano de saúde universal, o Obamacare'; e de ataques aos republicanos no que se convencionou chamar "guerra às mulheres".
"Nenhum dos dois lados tem feito uma campanha carismática, de ideias ou de futuro. A campanha do medo tem dado o tom", diz.
Segundo a consultoria Kantar Media e o Wesleyan Media Project, um programa da Universidade Wesleyan e da Knight Foundation, entre janeiro e outubro, ataques negativos contra Obama representaram quase dois terços de todos os anúncios dos republicanos no disputado Estado do Colorado.
Já os anúncios sobre aborto e direitos reprodutivos da mulher, quase todos ataques a políticas conservadoras dos republicanos, representaram 90% dos vídeos democratas no Estado. Economia e empregos não chegaram a 20% dos 52.369 anúncios televisivos veiculados no período.
PORRETE TERCEIRIZADO
Para especialistas, o aumento das propagandas negativas aconteceu a partir da decisão da Corte Suprema que autorizou grandes empresas e indivíduos a doar sem limites aos "supercomitês de ação política", conhecidos como SuperPACs.
A única exigência legal é que esse dinheiro não seja dado a um partido ou a um candidato. Assim, um pequeno número de bilionários e milionários tem investido pesadamente nas campanhas.
"Quando você dá dinheiro a um partido qualquer, você não tem controle de como esse dinheiro está sendo gasto", disse à Folha Saul Anuzis, consultor político que já dirigiu o Partido Republicano em Michigan.
"Os doadores estão ficando mais sofisticados e preferem pular os intermediários".
Marqueteiros comemoram, dizendo que seus candidatos podem fugir de ataques diretos, "terceirizando o porrete".
Até a semana passada, de acordo com a ONG Center for Responsive Politics, os SuperPACs dos bilionários americanos já gastaram mais (cerca de US$ 615 milhões) que os próprios partidos políticos (US$ 515 milhões).