Obama sofre sua maior derrota política
Republicanos conseguem maioria no Senado e na Câmara; presidente acena a adversários, mas ameaça usar veto
Futuro líder do Senado deseja novos acordos comerciais, mas pretende derrubar lei de reforma da saúde
O presidente dos EUA, Barack Obama, sofreu nesta terça (4) sua maior derrota política desde que assumiu a Casa Branca, em 2009.
A oposição republicana conquistou, com margens surpreendentes, a maioria no Senado e manteve a liderança na Câmara nas eleições legislativas.
O democrata Obama "encolheu", segundo diversos analistas, e terá que negociar com um Congresso mais conservador nos dois últimos anos de seu mandato, período em que presidentes enfraquecidos são conhecidos como "pato manco".
Os republicanos saltaram de 45 para 52 cadeiras (de um total de 100). Na Câmara, ganharam mais 14 vagas, chegando a 243 deputados (de um total de 435) --maioria republicana mais folgada desde a Segunda Guerra, segundo o jornal "New York Times".
Em eleições estaduais, até Estados tradicionalmente democratas, como Illinois e Massachusetts elegeram governadores republicanos.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (5), Obama reconheceu que a noite da véspera foi republicana e adotou discurso conciliador.
Disse que está "com muita vontade de trabalhar com o Congresso" --algo em que tradicionalmente é acusado de não ter interesse-- e convidou para um almoço na sexta-feira (7) as principais lideranças parlamentares dos dois partidos.
Mas, ainda na coletiva, Obama acrescentou que possivelmente o Congresso "vai aprovar leis que eu não poderei assinar e eu tomarei medidas que eles [republicanos]não concordarão".
O presidente ainda deu sinais de que assinará um decreto presidencial em relação à reforma imigratória paralisada no Congresso.
DOMÍNIO REPUBLICANO
As atenções se voltaram ao veterano senador republicano Mitch McConnell, do Kentucky, que deve ser tornar o líder da maioria no Senado a partir de janeiro.
Em coletiva, McConnell afirmou que conversou com o presidente pela manhã e que mencionou que há clima para "avançar" na criação de tratados e novos blocos comerciais, que significam "mais empregos para os americanos".
Quanto à reforma imigratória, McConnell disse esperar que o presidente "não passe por cima do Congresso", legalizando "milhões".
Para ele, isso "envenenaria" a relação entre republicanos e democratas e seria como "colocar uma capa vermelha na frente do touro".
Sobre o plano de saúde federal, defendido por Obama e em vigor há um ano, disse que foi "um grande erro, que custa bilhões ao contribuinte" e que certamente os republicanos tentariam mudar seu financiamento.
CULPADOS
Na entrevista, Obama tentou defender seu desempenho, reprovado por 55% dos americanos segundo pesquisas da semana passada.
Ele disse que a economia "continua crescendo mais que boa parte do mundo", que o deficit "foi reduzido à metade" e que o preço dos combustíveis está em queda, assim como o desemprego.
Porém, afirmou que "ainda temos que seguir lutando para que os benefícios da recuperação atinjam a todos".
O desemprego no início do governo Obama estava em 10% em janeiro de 2009 e caiu para 5,9%. O PIB deve crescer 2,4% neste ano.
No entanto, a renda média estagnou e o número de americanos que não está procurando emprego aumentou.
Além da impopularidade do presidente, a derrota de Obama foi atribuída à ansiedade provocada pelo Estado Islâmico e pelo ebola, que teriam aumentado a frustração dos americanos.
Outro fator foi o baixo comparecimento às urnas de jovens e de minorias como negros e hispânicos.
Já os republicanos, depois de derrotar o ultraconservador Tea Party, apresentaram candidatos mais moderados que nas eleições passadas e ofereceram uma imagem mais diversa. Pela primeira vez, o partido elegeu uma deputada federal negra e um senador negro do Sul.