Ex-preso de Guantánamo pede à Argentina que receba detentos
Jihad Diyab, que está no Uruguai, foi a Buenos Aires fazer o pedido
O ex-prisioneiro de Guantánamo Jihad Diyab, 43, que foi transferido para o Uruguai com cinco companheiros de detenção em dezembro, viajou à Argentina para pedir ao país vizinho que receba também presos do centro de detenção em Cuba.
"Antes de sair de Guantánamo, (...) um companheiro do Iêmen me disse: 'quando sair não nos esqueça'. Eu me emocionei muito. Nunca vou esquecer os companheiros que estão lá e por isso vim aqui para lutar", disse Diyab, em sua primeira entrevista desde que saiu da prisão.
O sírio, que viajou a Buenos Aires acompanhado de uma jornalista argentina no último domingo, falou com quatro veículos da imprensa alternativa, como a Barricada TV e a Radio Madre, das Mães da Praça de Maio. O vídeo de 19 minutos foi replicado pela imprensa argentina e uruguaia.
Vestindo o uniforme laranja de Guantánamo --o mesmo que estendeu, em forma de protesto, na semana de sua libertação, na sacada de sua nova casa em Montevidéu--, Diyab sugeriu que o governo argentino poderia "receber de forma humanitária ex-prisioneiros de Guantánamo".
"Tenho pedido aos governos aqui se podem receber mais gente", afirmou. Procurada pela Folha, a advogada de Diyab, a britânica Cori Crider, não respondeu se ele tem intenção de pedir também ao Brasil que receba prisioneiros.
Diyab era o que estava com a saúde mais debilitada ao sair da prisão, por ter feito greve de fome por quase dois anos dos 12 em que ficou detido. Depois de ser submetido à alimentação forçada, ele entrou com um processo contra o governo americano.
"Fomos torturados desde o primeiro até o último momento", disse, em árabe. "Os presos de Guantánamo sofrem muito. Não nos deixam dormir. (...) Alguns chegaram a pesar 30 quilos."
Nesta quinta (12), o presidente uruguaio, José Mujica, visitou, por duas horas, os outros cinco ex-prisioneiros em Montevidéu. Depois que a imprensa local revelou que o grupo desistiu das aulas de espanhol e não aceitou ofertas de emprego, Mujica insistiu com eles que é preciso que aprendam a falar espanhol.