Ataque a milícia na Líbia divide árabes
Bombardeio do Egito contra o Estado Islâmico leva a críticas de países do Golfo Pérsico, liderados pelo Qatar
EI líbio divulgou vídeo em que mostra 21 cristãos coptas egípcios sendo decapitados, o que levou aos ataques
Os bombardeios do Egito contra o braço da milícia radical Estado Islâmico em território líbio, no início da semana, desencadearam uma crise entre os países árabes.
O Qatar criticou os egípcios e foi apoiado pelo Conselho de Cooperação do Golfo, que reúne monarquias como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
O Egito atacou os jihadistas na Líbia um dia depois de o Estado Islâmico divulgar um vídeo mostrando 21 cristãos egípcios que viviam no país sendo decapitados.
O Qatar vem, desde quarta (18), encabeçando as críticas contra o bombardeio egípcio na Líbia.
De acordo com o país, o Egito não consultou os outros países da Liga Árabe antes de realizar uma "ação militar unilateral contra outro Estado membro".
Diante da manifestação do Qatar, o representante do Egito na Liga Árabe, Tarek Adel, acusou o país de estar do lado dos extremistas do EI. "É evidente que o Qatar está revelando sua posição de apoio ao terrorismo", disse Adel, segundo a agência estatal Mena.
Nesta quinta (19), o secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo --que reúne todos os países árabes da península, com exceção do Iraque--, Abdul Latif Al Zayani, condenou a declaração do egípcio, dizendo que ela ignora os "esforços sinceros do Estado do Qatar de cooperar com os países na luta contra o terrorismo e o extremismo em todos os níveis".
Tanto o Egito quanto o Qatar --país que abriga uma base militar americana-- fazem parte da coalizão liderada pelos EUA para o combate ao EI no Iraque e na Síria.
A mudança no discurso das monarquias do golfo, agora em apoio ao Qatar, pode refletir os esforços da Arábia Saudita em unir todos os Estados árabes sunitas contra a ameaça do EI e a influência do xiita Irã.
Na quinta (19), o Qatar também respondeu às declarações do Egito convocando seu embaixador no Cairo para consultas. Na diplomacia, a ação é tida como uma demonstração de repúdio ao outro país.
As tensões entre Cairo e Doha têm se intensificado desde que o militar Abdel Fattah al-Sisi, atual presidente egípcio, liderou o levante que levou à deposição do islamita Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, em julho de 2013. O Qatar era um grande apoiador de Mursi e da Irmandade.
INTERVENÇÃO
A Argélia também se posicionou nesta quinta contrária a qualquer intervenção militar na Líbia.
Segundo o chanceler do país, Ramtane Lamamra, o envio de armas ou uma intervenção direta só alimentaria o confronto entre milícias em território líbio.
Antes da Argélia, o premiê tunisiano, Habib Essid, também havia se posicionado contra uma intervenção.
O egípcio Al-Sisi pediu uma intervenção militar internacional na Líbia, e o governo líbio pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que suspenda o embargo à venda de armas ao país.