Casa Branca baixa o tom contra Venezuela
Assessor de Segurança Nacional minimiza sanções a venezuelanos e diz que chamar país de ameaça é só formalidade
Às vésperas de cúpula, EUA querem evitar que reaproximação de Cuba seja ofuscada pelas tensões com Maduro
Às vésperas da Cúpula das Américas, os EUA rebaixaram a retórica sobre as sanções ao governo venezuelano e indicaram que devem retirar Cuba da lista de Estados que apoiam o terrorismo.
"Os EUA não acreditam que a Venezuela seja uma ameaça à segurança nacional", disse Ben Rhodes, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, nesta terça (7).
Assinado em março, o decreto presidencial das punições a sete membros do governo venezuelano dizia que a Venezuela era essa ameaça. Segundo Rhodes, é linguagem "pro forma" (por pura formalidade) para sanções.
"De qualquer modo, as sanções não têm escala para atingir o governo venezuelano de forma ampla", acrescentou. As autoridades da Venezuela tiveram vistos e bens nos EUA congelados por serem responsáveis "por repressão dos direitos humanos e perseguição da liberdade de expressão", diz o decreto.
Nesta sexta-feira (10), pela primeira vez líderes dos 35 países do continente estarão presentes à Cúpula das Américas, no Panamá.
Será o primeiro encontro oficial em uma cúpula entre o presidente americano, Barack Obama, e o ditador cubano, Raúl Castro. Ambos anunciaram o reatamento diplomático entre EUA e Cuba em 17 de dezembro.
A linguagem das sanções à Venezuela "criou alguma confusão, não negamos isso", disse o assessor da Casa Branca para a América Latina, Ricardo Zúñiga, em entrevista coletiva. "E os EUA não são ameaça à Venezuela."
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusou as sanções de "intervencionismo imperialista" e pediu ao Parlamento mais poderes para "reagir" às medidas.
Segundo o diário "El Universal", Thomas Shannon, assessor especial do Departamento de Estado, se reúne com Maduro nesta quarta (8), em Caracas.
A operação "panos quentes" da Casa Branca tenta impedir que a tensão EUA-Venezuela ofusque o que é considerado pelos assessores de Obama a grande conquista do presidente na Cúpula: a volta da relação com Cuba.
Na mesma entrevista com Zúñiga, sua colega Roberta Jacobson, subsecretária responsável por América Latina, disse que "está perto do fim" o processo que deve retirar Cuba da lista de países que, segundo Washington, patrocinam o terrorismo.
Ela disse que o presidente Obama já demonstrou que defende o fim do embargo a Cuba, que só pode ser encerrado pelo Legislativo, e que quer reabrir a embaixada em Havana "o quanto antes".
REUNIÃO EM DÚVIDA
Segundo Zúñiga e Jacobson, a Venezuela será um dos temas em debate entre Obama e a presidente brasileira, Dilma Rousseff, mas não haverá reunião bilateral dos dois --a única de Obama será com o anfitrião, o presidente do Panamá, Juan Carlos Varela.
"Obama e Dilma têm agenda forte, de comércio, energia, segurança", disse Zúñiga. "Há preocupação sobre a situação interna na Venezuela também."
Nesta terça, porém, o Itamaraty afirmou que está previsto encontro bilateral entre a presidente do Brasil e seu colega dos EUA para este sábado (11), segundo e último dia da cúpula no Panamá.
Obama, Dilma e os presidentes do Panamá e do México, Enrique Peña Nieto, também devem participar de uma cúpula de presidentes de grandes empresas da região. O governo brasileiro informou que Dilma deve ter, ainda, encontros bilaterais com os presidentes de México, Colômbia e Haiti.