Bolívia levará para cúpula disputa territorial com Chile
Evo busca apoio de outros países da região para reivindicar área litorânea tomada pelos chilenos no século 19
O presidente boliviano Evo Morales buscará na Cúpula das Américas, que começa nesta sexta (10), apoio dos outros países da região na atual disputa territorial que mantém com o Chile.
A Bolívia quer recuperar os 400 km de litoral e 120 mil km² de território que possuía antes da Guerra do Pacífico (1879-1883) e que inclui os portos de Arica e Antofagasta. A pedido da Bolívia, a Corte Internacional de Haia ouvirá os argumentos dos dois países entre 4 e 8 de maio.
A demanda boliviana, iniciada em 2013, gerou uma crise diplomática entre os dois países. A presidente Michelle Bachelet desistiu de ir à posse de Morales, em janeiro, e os representantes do governo chileno reclamaram formalmente de ter sido obrigados a escutar, de pé, o "Hino Ao Mar" (cuja letra diz: "Antofagasta, terra linda, outra vez à sua pátria voltará), cantado por Morales e todo o Congresso. Para não passar por saia-justa semelhante, Bachelet também resolveu não ir à reunião no Panamá.
"Para que renunciemos a nosso direito ao mar, terão de matar a todos nós", disse o vice boliviano, Álvaro García Linera, em discurso em La Paz, na semana passada.
A gestão Morales acaba de aprovar, também, leis que preveem a inclusão de material didático defendendo a reincorporação do território chileno e celebrem a memória de Eduardo Abaroa (1838-1879), herói boliviano da Guerra do Pacífico.
O porta-voz da demanda boliviana, o ex-presidente Carlos Mesa, diz que o Chile "precisa entender" que não há outra saída que não seja negociar. "Uma vez que não quiseram conversar bilateralmente, tivemos de levar o assunto a um fórum internacional." Mesa acaba de voltar de uma turnê europeia para buscar apoio à causa boliviana.
O Chile considera a questão sem cabimento e tenta desautorizar o tribunal de Haia sobre a demanda boliviana.
De acordo com tratado assinado entre os dois países em 1904, a Bolívia abriu mão do território em questão, recebeu uma indenização e ficou estabelecida uma série de facilidades de acesso aos dois portos em disputa.
Os problemas recomeçaram nos anos 80, com a privatização de Arica e Antofagasta, que resultou num aumento de custos para a Bolívia importar ou exportar por essa via. O governo boliviano considera que a privatização desrespeita o tratado de 1904.
"A Bolívia precisa parar de dizer que não possui saída para o mar. Os produtos bolivianos têm livre acesso aos portos chilenos, pagam menos que exportadores chilenos e têm facilidades para armazenar mercadorias de forma gratuita", diz o chanceler chileno Heraldo Muñoz.
A subida de tom da Bolívia chega quando o governo começa a perder base de apoio popular. Nas eleições municipais, há duas semanas, o MAS (Movimento ao Socialismo, partido de Morales) perdeu postos importantes, como La Paz e El Alto.
Também influi a desaceleração econômica. Segundo o governo, a recuperação do acesso ao mar significaria alta de cerca de 1,5% do PIB.