Líderes latino-americanos criticam prisão de opositores na Venezuela
Um dia após Dilma defender soltura de presos, Uruguai, Paraguai e OEA condenam detenções
Diante de repercussão de fala da presidente na mídia, assessor do Planalto diz que Brasil não mudou de posição
Líderes latino-americanos presentes à 7ª Cúpula das Américas reclamaram da prisão de opositores na Venezuela. Em entrevista à CNN em Espanhol divulgada na noite de quinta (9), Dilma Rousseff disse que não era aceitável que políticos fossem presos. "Não pensamos que a melhor relação com a oposição seja prender quem quer que seja", afirmou a presidente.
Na manhã desta sexta-feira (10), o mandatário uruguaio, Tabaré Vázquez, afirmou que a situação dos oposicionistas Leopoldo López e Antonio Ledezma era "preocupante", mas fez a ressalva de que o Uruguai não se intrometeria no que considerava ser um assunto "interno".
O paraguaio Horacio Cartes também se posicionou contra a prisão dos opositores e defendeu que Caracas aceite ajuda externa para conseguir sua libertação. Cartes também ofereceu ajuda para superar a escassez de alimentos pela qual passa o país caribenho. "Sinto que há uma predisposição para ajudar a Venezuela, que precisa se deixar ajudar. Nos preocupam os presos e a falta de alimentos."
Em entrevista ao jornal argentino "Clarín", o uruguaio Luis Almagro, que assume como novo secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) em maio, afirmou ter "enfatizado que os detidos na Venezuela devem ter todas as garantias durante o processo e que são inocentes até que se possa comprovar judicialmente sua culpabilidade nos delitos dos quais são acusados". Ele acrescentou: "Não me preocupa que existam políticos presos, e sim que existam presos políticos".
SEM MUDANÇA
Perante a repercussão na mídia da declaração de Dilma, classificada por uma TV local do Panamá como mostra de apoio dela aos opositores venezuelanos, o Planalto distribuiu a transcrição da entrevista, argumentando que a presidente não havia criticado o governo.
Segundo o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, "não há uma mudança de opinião [sobre a Venezuela]. A presidenta tem sempre uma posição muito clara sobre as questões de respeito aos direitos humanos. Mas o aspecto essencial é buscar um acordo entre governo e oposição, que em parte já foi alcançado".
Já o presidente boliviano, Evo Morales, criticou as sanções impostas pelos EUA a autoridades venezuelanas em março. "Obama vai se lembrar de que seu maior erro terá sido esse decreto. Vim para trazer minha assinatura [Maduro reuniu mais de 10 milhões num abaixo-assinado que apresentará na cúpula]. Somos uma mesma família. Somos a pátria grande."
Por meio de um comunicado, a Chancelaria argentina também se posicionou a favor da Venezuela. Em sua chegada ao Panamá, Maduro visitou o bairro de El Chorrillo, bombardeado durante a invasão dos EUA ao país em 1989. "Os EUA têm de indenizar o Panamá", disse. (Sylvia Colombo e Patrícia Campos Mello)