Sauditas esperam apoio do Brasil sobre Iêmen, diz diplomata do país
Principal representante saudita em Brasília destaca que os 2 países defendem governos legítimos
Arábia Saudita não descarta invasão do Iêmen e está '100% preparada contra ameaças', afirma
Às vésperas da visita do ministro para Relações Exteriores da Arábia Saudita, Nizar Madani, a Brasília, o principal representante da monarquia no país diz esperar que o Brasil demonstre publicamente apoio aos ataques realizados pela coalizão liderada pelos sauditas à milícia xiita houthi no Iêmen.
"Seria uma coisa maravilhosa, que nós esperamos dos nossos amigos. O Brasil está sempre a favor da legitimidade, e a ação da Arábia Saudita é em favor de um governo legítimo", disse à Folha o encarregado de negócios saudita, Ibrahim Aleisa, que está à frente da embaixada em Brasília.
Segundo Aleisa, seu governo não espera que o "apoio moral" seja "contra os rebeldes", mas "a favor da legitimidade". "Sabemos que o Brasil está avaliando a situação", disse. O diplomata lembra que a coalizão liderada pelos sauditas e formada por países árabes conta com a contribuição dos EUA e recebeu o apoio recente de países como o Sudão e o Senegal.
Desde que teve início, há duas semanas, a ação da coalizão se limitou a ataques aéreos e envio de armamentos a grupos leais ao presidente iemenita Abdo Rabbo Mansur Hadi.
Questionado sobre uma possível invasão por terra, Aleisa diz que seu país não descarta o envio de forças. "A Arábia Saudita não vai parar até atingir o objetivo da guerra, que é restaurar a legitimidade, a segurança e a estabilidade do Iêmen e da nossa fronteira."
Apesar da resistência dos houthis, que seguem avançando rumo ao sul com o apoio do regime xiita iraniano, o representante saudita afirma que os ataques aéreos já conseguiram "enfraquecer os pontos fortes" dos rebeldes.
Segundo Aleisa, o regime saudita convidou os rebeldes "para o diálogo" antes da ação. "Mas não tem interesse do outro lado, porque eles estão apoiados pelo Irã para gerar problemas no mundo árabe e na segurança do golfo [Pérsico]."
O encarregado de negócios defende os ataques aéreos mesmo depois de as Nações Unidas divulgarem que mais de 70 crianças morreram desde o início da ofensiva no país.
"Você pode ver nas imagens dos bombardeamentos na internet: há uma precisão, 100% dos ataques são contra instalações militares", afirma. Ele acusa os rebeldes houthis de matar civis e divulgar imagens para culpar a coalizão.
Diante do risco de que o conflito interno do Iêmen se torne uma disputa regional, polarizada por Teerã e Riad, o diplomata disse que seu país está preparado para responder e "defender a nossa terra". "Se eles [Irã] mexerem, vamos responder. Estamos 100% preparados para qualquer ameaça", afirmou.
BLOGUEIRO
Questionado sobre a punição dada ao blogueiro saudita Raif Badawi, condenado a mil chibatadas por "insultar o islã", o representante defendeu a pena. Segundo Aleisa, Badawi "teve todas as oportunidades de se defender, de apelar a todas as instâncias".
"Nosso país é soberano e tem suas leis. Dentro da aplicação dessas leis, isso não é tortura. Nós temos horror à coisa chamada tortura."
O ministro saudita chega no domingo (12) ao Brasil para a retomada de uma comissão mista bilateral criada em 2009. Serão assinados acordos nas áreas de aviação civil e esportes. Um dos principais interesses sauditas, porém, é desenvolver uma parceria sobre segurança alimentar.