Juiz manda soltar preso há 43 anos em solitária
Membro dos Panteras Negras confinado por assassinato de carcereiro alega ser inocente
Mais de quatro décadas após ser confinado na solitária de uma prisão do Estado americano da Louisiana (sul), Albert Woodfox, 68, pode ser solto nos próximos dias.
Na segunda-feira (8), um juiz federal ordenou a soltura de Woodfox, ex-membro dos Panteras Negras, grupo radical proeminente nos anos 60 e 70 que defendia os direitos civis dos negros nos EUA.
O juiz também vetou um novo julgamento --o terceiro.
O procurador-geral do Estado, Buddy Caldwell, no entanto, afirmou que vai recorrer da decisão.
Para ganhar tempo e impedir que Woodfox seja libertado, o Estado entrou com pedido para bloquear temporariamente a ordem de soltura.
O Tribunal de Apelações do Quinto Circuito concedeu o bloqueio da soltura até sexta (12), tempo necessário, segundo o juiz, para que a defesa do preso conteste a ação.
"Embora a liberdade para Albert não tenha chegado nesta noite, continuamos confiantes em que a ordem do juiz federal é baseada em fortes precedentes legais e que a justiça vai prevalecer", declarou Tory Pegram, coordenadora da campanha pela libertação do militante.
Pegram, que falou com Albert Woodfox na noite de segunda (8), afirmou que o preso está "animado e nervoso".
"Ele reconhece que este é um passo extraordinário, mas também está preparado para que o processo leve alguns dias", disse.
Preso por roubo no fim da década de 1960 na prisão de Angola, Woodfox e outro Pantera Negra, Herman Wallace, foram acusados em 1972 da morte de um carcereiro. Os dois foram postos na solitária e, um ano depois, condenados à prisão perpétua.
Woodfox nunca assumiu a autoria do crime e diz ter sido perseguido por causa da militância dentro da prisão.
Ele passa 23 horas por dia em uma cela de 2 x 3 metros e se tornou o segundo preso na história dos EUA em número de anos de confinamento solitário.
Sua condenação já foi revogada três vezes na Justiça. Em todas as ocasiões, o procurador-geral da Louisiana recorreu e, em fevereiro deste ano, decidiu iniciar o processo para levar o detento a um terceiro julgamento.
O juiz federal James Brady, porém, determinou que Woodfox não enfrentaria novamente o júri devido a "condições excepcionais". Entre elas, apontou a incapacidade do Estado de promover um julgamento justo, a idade e o estado de saúde do detento.
Wallace, o suposto cúmplice de Woodfox, foi solto em outubro de 2013, após 41 anos na solitária. Ele morreu três dias depois, vítima de um câncer no fígado.
Segundo levantamento do Escritório de Estatísticas Jurídicas feito em 2005, havia naquele ano cerca de 80 mil presos em algum tipo de confinamento isolado nos EUA.