Argentina enfrenta nova greve geral a 4 meses de eleição
Protesto tem entre alvos corrupção e números da pobreza; rompido com sindicatos, governo Cristina vê ato político
Paralisação atingiu transporte público, aeroportos e coleta de lixo; foram cancelados ao menos 18 voos entre o Brasil e a Argentina
A Argentina parou novamente nesta terça (9) por causa de uma segunda greve geral neste ano, a cerca de quatro meses das eleições para presidente no país.
Os grevistas interromperam o funcionamento de trens, metrô, ônibus e aviões em Buenos Aires. O transporte público também foi afetado em importantes cidades do interior. Escolas, postos de gasolina e o serviço de limpeza e coleta de lixo foram paralisados na capital.
Desta vez, a reivindicação é mais ampla, e o tom de crítica ao governo, mais afiado.
Na primeira paralisação promovida neste ano, em 31 de março, os sindicalistas queixavam-se do imposto que incide sobre os salários de quem ganha mais de 15 mil pesos (cerca de R$ 3.700).
Nesta terça, a reclamação estendeu-se a assuntos que vão além da pauta trabalhista, como a inflação, a informalidade, a corrupção, a violência e até os dados de pobreza apresentados pela presidente Cristina Kirchner.
Em discurso na segunda-feira (8) na Itália, Cristina Kirchner disse que a Argentina apresenta um número de pobres inferior ao de países europeus, como Dinamarca, Finlândia e Alemanha.
"Ninguém com um pouco de seriedade pode dizer um disparate desses", afirmou Hugo Moyano, secretário-geral da CGT --central sindical crítica ao governo-- e um dos líderes da greve geral.
O clima entre sindicatos e governo, que já não era bom após a primeira greve, piorou depois que o Ministério da Economia tentou fixar um limite de 27% para as negociações salariais. No ano passado, segundo consultorias, a inflação foi de 38%.
O argumento do governo é que o aumento do custo de vida está mais brando neste ano (ao redor de 25%), e reajustes mais elevados poderiam reacelerar a inflação.
Após um primeiro mandato sem enfrentar greves gerais (o que era inédito para um presidente argentino desde a volta da democracia, em 1983), Cristina já passou por cinco paralisações trabalhistas nesta segunda gestão -- em média, uma greve a cada oito meses.
O chefe de gabinete de Cristina, Aníbal Fernandez, afirmou que a greve tem motivação "política" e prejudica os que querem ir ao trabalho.
Elizabete Céspede, 49, participou de uma marcha organizada em frente ao Ministério do Trabalho. Moradora da periferia de Buenos Aires, chegou ao local graças a um ônibus fretado por grevistas.
Mas, enquanto os dirigentes discursavam contra as medidas para os trabalhadores, ela tinha outra opinião. "Este governo melhorou a vida de imigrantes como eu", disse Elizabete, que é boliviana, mas vota na Argentina.
TURISTAS BRASILEIROS
Matilde e Rubens Marson, ambos de 74 anos, chegaram nesta terça (9) à cidade. Apesar do cancelamento de ao menos 18 voos da Gol e da TAM na rota Brasil-Argentina, eles disseram não ter enfrentado problemas. "Só estou notando que há muito lixo nas ruas", disse Matilde.
Na rua Florida, ponto turístico no centro da cidade, a maior parte das lojas estava aberta. Carlos Sánchez, funcionário de uma loja de souvenires, disse que o patrão mandou um carro particular buscar os funcionários. "O movimento está mais fraco que o normal, mas há muitos turistas brasileiros e europeus. Não podemos fechar."