Análise
Sindicatos fazem argentinos ficarem em casa tomando mate
O poder do sindicalismo argentino é tal que consegue paralisar o país sem precisar recorrer a piquetes, pacíficos ou violentos.
É o que os sindicalistas chamam de greve "matera", porque o pessoal fica em casa tomando mate.
De certa forma, o ministro do Interior, Florencio Randazzo, concordou com essa definição ao dizer que "os sindicalistas decretaram a prisão domiciliar de milhões de argentinos".
Não deixa de ter razão: a paralisação total dos transportes, a base da greve, deixa a população impossibilitada de se locomover, o que significa que o vazio absoluto que marcou Buenos Aires não quer dizer necessariamente um repúdio maciço ao governo da presidente Cristina Kirchner.
Quer dizer apenas que a presidente faz do confronto uma característica de sua gestão, o que a levou a enfrentar-se também com o sindicalismo, por mais que este se diga peronista, como a própria Cristina o é (embora cada vez mais "kirchnerista" do que peronista).
A presidente preferiu apoiar-se em uma central sindical (a CTA, Central dos Trabalhadores Argentinos), a menor e mais esquerdista das confederações sindicais.
Afastou-se, com isso, do sindicalismo tradicional, mais populista do que esquerdista. Por isso, enfrentou nesta terça-feira (9) sua quinta greve.
Nem por isso Cristina move um dedo para pelo menos ouvir os líderes grevistas, confiando, ao que parece, em que a paralisação é dos transportes e não uma greve realmente geral.
É natural, com isso, que os sindicalistas insinuem, veladamente, uma nova greve, talvez de mais longa duração.
De novo, não será um problema da presidente e, sim, dos candidatos a sucedê-la, que já estão em plena campanha para as primárias obrigatórias, marcadas para 9 de agosto.
Todos eles, de oposição ou situação, precisarão, como é óbvio, do apoio do sindicalismo tradicional, que não poderá ficar "mateando" na campanha.