Análise Cuba
Após 54 anos, Fidel Castro é um vitorioso frágil
Ditador sobreviveu a décadas de relação conflituosa com EUA, mas seu estado é de um homem de quem se tem pena
SE EU FOSSE DA PROPAGANDA DE CUBA, ESCONDERIA FIDEL PARA FICAR NA MEMÓRIA O HOMEM DE BARBA NEGRA ESPESSA
A imagem de Fidel Castro amparado pelo presidente boliviano, Evo Morales, para sair de uma van, no dia de seu 89º aniversário (quinta-feira, 13), fornece duas sensações opostas.
Primeiro, a de um homem vencedor.
Afinal, foi por Fidel que se arriou a bandeira norte-americana diante da embaixada em Havana, em 1961, e é uma vitória para ele que o regime que encarnou tenha sobrevivido aos 54 anos de confronto e de tentativas de desestabilização.
Mas o vitorioso aparece, justamente na véspera da volta da bandeira norte-americana ao mastro, tão caído, tão frágil, que até dá pena.
Se eu fosse do ministério da propaganda de Cuba, esconderia Fidel para que a imagem dele permanecesse a do homem de espessa barba negra, vitorioso em Sierra Maestra, e não do ancião de barba rala e embranquecida que se viu na quinta-feira.
A menos que a propaganda cubana queira dizer que Fidel é "inmorrible", como se dizia, 40 anos atrás, de Francisco Franco Bahamonde, o "caudilho de Espanha pela graça de Deus", quando ele agonizava no seu Palácio do Pardo.
Foi tão longa a sua agonia que os espanhóis diziam: "Franco não é imortal, mas é imorrível."
Foi exatamente essa a sensação que tive ao ver as fotos de Fidel com Evo Morales.
Afinal, prognostiquei a sua agonia final já no ano de 1997, ou seja, há quase um quarto de século.
ENCONTRO
Tudo porque o encontrei em Genebra, após as comemorações do cinquentenário do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, rebatizado para Organização Mundial do Comércio).
Fidel estava muito pálido, a barba já mostrava enormes falhas, tinha um cor de doente ""exatamente como apareceu nas imagens deste agosto de 2015.
Ainda por cima, chegou a ser internado brevemente na cidade suíça naquela oportunidade.
Na volta ao Brasil, fiz um relatório para a Direção de Redação da Folha, relatando as minhas impressões do encontro com Fidel e sugerindo que se enviasse alguém a Cuba para começar a levantar o material para o pós-Fidel, que eu achava que poderia não tardar muito.
Levou 11 anos para que a doença de fato o abatesse e o forçasse a transferir o poder para o irmão, Raúl.
É claro que não é a mesma coisa um homem de 71 anos com a aparência de doente, como era o Fidel de 1997, e outra coisa o mesmo homem, com aparência ainda mais decaída, aos 89 anos.
Portanto, é possível que Fidel Castro de fato morra em breve. No entanto, eu continuo achando que Fidel seja "imorrível".